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[Resenha] Redimindo o Seu Tempo – Jordan Raynor

Título: Redimindo o seu tempo: Sete princípios bíblicos para ser intencional, presente e extremamente produtivo

Autor: Jordan Raynor

Editora: Pilgrim

Ano: 2022

Páginas: 299

Sinopse: Como administrar o meu tempo? Como ser mais produtivo? Como honrar e glorificar a Deus em meio a tantas atividades? Como ter equilíbrio entre os afazeres e o tempo? Todas essas questões perpassam a nossa mente ao longo da vida. Administrar os nossos recursos da melhor maneira possível para a honra e glória de Deus é um grande desafio. Mas devemos encará-lo! Em seu novo livro, o escritor e empreendedor norte-americano, Jordan Raynor, nos ensina como Jesus geriu o seu tempo na terra e como podemos segui-Lo em questões básicas dos nossos dias. Por meio de 7 princípios bíblicos, encontramos um manual para sermos intencionais, presentes e extremamente produtivos, para a honra e glória de Deus.

A última leitura de um dos meus clubes do livro foi o Redimindo o Seu Tempo, do Jordan Raynor. Inicialmente, pensei em fazer uma série de textos sobre cada um dos princípios que ele aborda. Mas ao longo da jornada de várias semanas e todas as reflexões que fizemos, entendi que o melhor caminho seria um post só, com a resenha, ainda que ficasse um pouco mais longa.

O livro é bem prático e traz uma série de ferramentas e práticas que podemos usar na gestão do nosso tempo. Para quem fala inglês, o site da obra traz vídeos, planilhas e PDF de tabelas que podemos usar para cada uma das atividades propostas. Entretanto, como o próprio autor faz questão de deixar claro, o livro não é uma mera ferramenta. Apesar de compilar conhecimentos de autores e métodos conhecidos, seu interesse é nos levar a refletir sobre porque nos organizar, porque queremos tempo livre e, sobretudo, a realinhar nosso coração e prioridades conforme a Palavra de Deus.

Quem me conhece sabe que, apesar de viver correndo com mil atividades e sempre lutando com a bagunça da casa, gosto muito de estudar produtividade e gestão do tempo, para usar tanto no escritório quanto em casa. Por ter muita clareza sobre o tanto que me falta, estou constantemente aprendendo métodos, testando formas de trabalhar melhor e mais rápido e identificando maneiras de não deixar as demandas domésticas caírem sobre a minha cabeça. E, por mais que eu não seja um desses gurus de gestão do tempo, já andei dando meus conselhos e ajudando alguns amigos por aí, quanto ao assunto.

Aprendi em minhas andanças pelo mundo corporativo que fazer certo da primeira vez leva menos tempo do que ter que ficar arrumando um serviço malfeito depois. Também aprendi que, dá para otimizar o tempo se criarmos processos e agruparmos as tarefas por tipo. Nem sempre dá para fazer assim quando estamos falando de serviço doméstico, mas conseguimos adaptar bastante.

Quando pude migrar de um trabalho operacional em uma empresa com processos e procedimentos padronizados mundialmente para uma atividade criativa em uma empresa que tinha horror a padrões, meu desafio foi colocar em prática o que aprendi. Apesar de não ter pressão da instituição, mesmo assim, criei rotinas para a minha atividade e, em menos de dois meses, tinha relatórios, dados para apresentar e uma excelente reputação quanto à minha organização dentro da equipe.

Agora sou autônoma, mas atendo um cliente com processos estabelecidos e fluxo de informação organizado, e aplico esse conhecimento para melhorar o trabalho que entrego. Ao mesmo tempo, desenvolvo rotinas para acelerar minha produção e dos colegas. Em um ano, hoje sou referência para alguns assuntos na equipe e é muito bom esse reconhecimento.

Mas, voltando ao livro, embora eu conhecesse várias práticas de gestão do tempo, nunca havia relacionado cada uma com aspectos importantes da vida espiritual e familiar, muito menos elencado prioridades sobre quais áreas atender primeiro. Então, a leitura foi uma ferramenta de alinhamento do coração e de entendimento dos meus motivos, para além de meras ferramentas para aprender e aplicar.

Dito isto, começar a olhar para o todo das minhas atribuições foi crucial, e melhor do que separar a minha vida entre tradução, casa, leituras. Sem contar que, ao ler um livro escrito por um homem empresário, a tentação de querer descartar o livro ou de querer forçar abordagens onde elas não se aplicam é grande.

A principal noção que temos ao ler o livro é de elencar prioridades. Então, estabelecer uma vida devocional deve ser nosso primeiro foco. Depois disso, eliminar as distrações e os excessos de informação e de ruídos. Isso vai nos abrir os olhos para tempo que estava desperdiçando e que podemos usar para algo útil. Depois disso, o descanso, desde noites bem dormidas, passando pelas pausas entre as atividades do dia e chegando ao descanso semanal.

Este é um dos meus desafios e uma das práticas que estou desenvolvendo ao longo das semanas, desde que terminei a leitura do livro. Ter um dia de descanso do trabalho é essencial e eu negligencio bastante.

Nas últimas semanas, estou colhendo bons frutos dessas pausas e da melhor reorganização do tempo entre atividades. Apesar de não estar com tudo rodando perfeitamente como a engrenagem de uma empresa, e de não estar fazendo várias coisas por minha conta, aprendi que posso me valer de ferramentas de gestão de tempo tanto quanto de ajudas externas. Isso tira um peso enorme das minhas costas.

Por exemplo, por mais que eu lave e seque roupas na máquina, há aquelas que é melhor secar no varal e há épocas em que faz mais sentido, com o clima de onde eu moro, secar tudo no varal. Há as que não passo, mas não abro mão de passar outras por isso, meu tempo para essa atividade precisa ser protegido. Além disso, por mais que eu lave boa parte da louça na máquina, tem peças que devem ser lavadas à mão, por mais que eu tenha uma diarista uma vez na semana, devo organizar a casa todos os dias, dar conta da roupa e da louça, fazer compras e por e tirar mesa para as refeições. Em resumo: por mais que as ferramentas ajudem e economizem um bocado de tempo, ainda nos sobra trabalho para exercer em cada área da nossa vida. De forma mais inteligente e otimizada, mas mesmo assim, trabalho. E, se sobra mais tempo para alguma atividade remunerada que possibilite ter acesso a mais ferramentas, ótimo. Se sobra tempo para lazer e descanso, com a família e sozinha, melhor.

O principal resumo que fica dessa leitura, é que quanto mais otimizado o tempo, melhor, não para que eu fique de perna para o ar, mas sim que eu trabalhe de forma inteligente, descanse sem culpa e as coisas caminhem em um mínimo de ordem. Quando o caos vier — quem tem criança pequena sabe bem o que é uma virose — que seja mais fácil saber por onde começar a colocar ordem no caos e, com isso, refletir a imagem de Deus para aqueles que estão ao nosso redor.

Espero que vocês leiam o livro e depois venham aqui me contar o que aprenderam com ele.

Skoob

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[Resenha] Vergonha – Brittainy C. Cherry

Título: Vergonha

Autora: Brittainy C. Cherry

Editora: Record

Ano: 2019

Páginas: 410

Sinopse: Um amor inesperado que surge de forma inusitada e arrebata a vida de Grace Harris. Grace Harris está perdida e sozinha em sua casa em Atlanta depois que o homem que ela pensou que ficaria a seu lado pelo resto da vida traiu sua confiança, partiu seu coração e saiu de casa, deixando seu casamento em suspenso. Grace resolve, então, passar o verão com a família em Chester, sua cidade natal, para respirar, dar um tempo de tudo. Sua vida está uma bagunça e o que ela precisa no momento é de um pouco de gentileza e compaixão.

Por incrível que pareça, Grace encontra isso na pessoa mais improvável de todas: Jackson Emery, a ovelha negra da cidade. Conhecido como a erva daninha de Chester, ele é sinônimo de encrenca, e não faz nada para mudar essa imagem. Tendo perdido na infância o que havia de mais valioso na vida, Jackson se tornou um homem amargurado e não dá a mínima para o que pensam dele. Os caminhos de Grace e Jackson acabam se cruzando de um jeito inusitado e a tristeza profunda que carregam atrai os dois como ímã. Ambos sabem que não foram feitos um para o outro, mas, como tudo vai acabar mesmo com o fim do verão, resolvem deixar rolar e se entregar a uma diversão passageira.

Porém, o que Grace não imaginava é que seu coração, já destroçado, seria obrigado a aprender que certos relacionamentos são capazes de causar dores muito profundas, e que é sempre preciso fazer uma escolha.

Vergonha, da Brittainy C. Cherry, foi o primeiro livro que terminei em 2023. Hesitei um pouco em publicar uma resenha aqui no blog e já fiz algumas reflexões no meu perfil do Instagram, que deixei salvas nos destaques. Mas, de alguma forma, mesmo que eu tenha gostado do livro, no geral, em respeito ao público que me lê aqui e lá, acho que é mais responsável fazer algumas observações sobre a obra, no geral e destacar alguns detalhes. Aqui no blog, será melhor por não ter a limitação de caracteres dos posts do feed do Instagram e nem preciso resumir tanto como em um story. Bem, vamos lá.

Vergonha é um livro do gênero romance dramático, embora a capa leve a pensar que o conteúdo seja erótico ou até um new adult. Como eu já conhecia o estilo da autora, quando minha amiga recomendou a leitura, não me concentrei nesse detalhe e fui logo começar a ler.

A protagonista é Grace, uma filha de pastor, que começa a história vendo seu casamento desmoronar por uma traição de seu marido, Finn. Ela vai passar o verão em Chester, onde mora sua família e é lá que toda a trama se desenrola. Chester é uma cidadezinha pequena e, como tal, a maioria das pessoas sabe tudo da vida umas das outras. A fofoca rola solta, a família “dona” da igreja é considerada a realeza da cidade e as filhas do pastor consideradas as princesinhas perfeitas.

Na periferia disso, vive Jackson, um rapaz de 24 anos, que trabalha em uma oficina mecânica e cuida do pai alcoólatra. Ele começa a história vendo o casamento dos pais acabar e seu único amigo, o cachorro Tucker como suporte.

Enquanto Grace cresceu com uma aparente vida boa, cresceu sem decidir seus próprios caminhos. Engolida pelo estilo de vida de Chester e da reputação familiar que precisava manter, não sabe muito sobre si mesma e seus gostos. Quando seu casamento acaba, sente-se perdida, sem saber o que fazer e, ainda pior, quem ela é. Tudo isso piora quando, ao invés de receber apoio e acolhimento das pessoas de quem mais se esperaria isso, tanto sua mãe quanto a igreja a pressionam a aceitar o inaceitável e a lutar pelo que já nem existe mais. No boca a boca, Grace ai sendo mal falada e objeto de fofoca, provocando a ira de sua mãe, que vê a reputação da família ir pelo ralo.

Tudo isso ainda piora quando, em vários momentos, quem está na cena para salvar Grace do desespero é Jackson, que se tornou a ovelha negra da cidade, aquele para quem ninguém olha e com quem ninguém quer ser visto. Encontramos Jackson crescido, tendo perdido a mãe e sendo responsável por manter o pai vivo e a oficina dele funcionando, de onde vem o sustento dos dois. Jackson teve que abandonar sonhos e fazer o que se devia, desde muito pequeno. Forçado a amadurecer antes da hora, desprezado pela cidade inteira e considerado um monstro pela igreja e a família que a comanda, a última coisa que ele quer é contato com a princesa Grace.

Mas, não é isso que o destino parece querer e, vez após vez, os dois se encontram, até que passam a um tipo de relacionamento que “serve” aos dois. Jackson é o bad boy da cidade, que trocou o vício em drogas pelo “sexo para esquecer” e Grace é a mocinha perfeitinha que decide se rebelar. O relacionamento dos dois começa como pura troca física e, apesar da capa levar a crer que se trate de um livro com uma carga de sexo muito grande, os personagens mais FALAM sobre o assunto do que existem cenas realmente gráficas de sexo. Ainda assim, não recomendo para menores de idade.

Em resumo, esta é a história até a parte onde os conflitos começam e todos os dramas passam a desenrolar. Não costumo dar spoilers em minhas resenhas, nem ficar só no resumo básico da trama (senão não seria resenha), então coloco aqui algumas observações que acho importantes sobre a história em geral.

Eu gosto muito da escrita da autora e com Vergonha não foi muito diferente. O texto é fluido, os diálogos são dinâmicos e importantes e os capítulos são construídos de uma forma que não dá para simplesmente deixar o livro de lado. Eu só não devorei a história toda em dois dias porque minhas pequenas férias já acabaram e eu tinha muito trabalho. Como toda história da Brittainy, os dramas são a principal carga da história.

Nesse, como em Eleanor & Grey, trata-se de um universo mais adulto do que jovem. Talvez seja por isso que estranhei um pouco as escolhas dos livros que os personagens liam em algumas cenas na livraria. Pelo estilo de vida deles e as faixas etárias, eu imaginaria que eles lessem outras obras. Mas, também não é nada que eu não faça, afinal, olha a minha idade e os livros que eu gosto de ler. E os textos que eu gosto de escrever. Então, tudo bem.

Mas, ainda na livraria, um ponto que me deixou pensativa foi que os dois, Jackson e Grace, se refugiavam na livraria para ler por horas intermináveis. Cada um por seus motivos, mas o que eu quero dizer é que, no livro, as leituras deles e as conversas que surgem a partir disso são o ponto de contato que os permite começar a adentrar a vida um do outro, a saber o que eles pensam, do que gostam e como reagem na vida.

Apesar de se entregarem ao sexo o tempo todo, no livro o sexo é jogado de lado, como uma mera troca física, sem importância e que, sem dizer isso, mas deixando no ar, pode ser feita com qualquer um, por qualquer motivo, porque não é importante. Como cristã, meu posicionamento é bem diferente. Entendo que o sexo é importante, que tem seu lugar dentro do casamento e que não é só algo que se resuma ao aspecto físico e corporal. No livro, a banalização é tanta que apesar de todas as vezes em que o casal transa, a aproximação, carinho, vínculo só se forma quando eles se concentram em outras atividades, como por exemplo a livraria.

Toda a trajetória do livro, especialmente na vida do Jackson, é desenhada para mostrar uma pessoa buscando a libertação e a paz para si mesma, mas na obra, tudo acontece na direção errada e pelos motivos errados, se considerarmos a forma cristã de enxergar a realidade. Primeiro ele tenta encontrar seu refúgio nas drogas. Depois, para não usar a droga, ele sai fazendo sexo com qualquer uma da cidade. Depois, só com Grace e, ao mesmo tempo em que tenta se encontrar nela, a solução para sua libertação no livro está dentro dele mesmo. Acontece algo parecido com Grace.

Como cristã, isso me chama a atenção, pois a condição humana é tal que não dá para encontrar a salvação em nenhuma dessas coisas que os personagens buscaram. Muito menos dentro deles mesmos. A individualidade e a busca interior não são a solução para os problemas do pecado da humanidade. Cristo é. Não é se enfiando em uma busca desenfreada por nós mesmos que vamos encontrar as respostas. O ser humano não pode salvar a si mesmo.

No livro, o caminho retratado é esse da busca por si, mas agravada por algo que também me deixou pensativa e ainda mais triste. Os dois buscam apoio da igreja e dão com a cara na porta. Na verdade, dão com a porta na cara deles. Tudo o que os dois personagens encontram ao ir atrás da igreja e da família do pastor é julgamento, zombaria, regras a serem seguidas. A comunidade cristã retratada no livro joga na cara dos dois personagens que já estão na lama que a condição deles é péssima, que a presença deles ali “estraga a bela paisagem” e, algumas vezes de forma explícita, outras de forma sutil, são convidados a se manterem à distância.

Esse ponto acabou comigo de diversas formas. Primeiro, porque eu cresci na igreja e vi muito isso acontecer, de todos os lados dessa moeda. Já perdi as contas de quanta gente vi deixar a igreja porque não era aceita, não era acolhida ali dentro, onde se diz um lugar de acolhimento e de sarar feridas. Quantas vezes, eu mesma e muitas pessoas que eu conheço, acharam mais abraços e colo entre pessoas que não são da igreja? E posso falar? Os amigos mais chegados da minha família hoje são os que cresceram com o meu marido. Nenhum é da igreja. Não acho bonito ver cristãos sendo retratados daquela forma no livro, mas não posso negar que essa seja a realidade da igreja hoje.

Me faz chorar quando penso que essa é a imagem que passamos ao mundo. Que a imagem que as pessoas hoje tem de nós é de um bando de malucos, estúpidos, fanáticos, fofoqueiros e preconceituosos, que dão as costas ao necessitado (e aqui não estou falando de pobre só não). Fico pedindo pela misericórdia do Senhor pelo que temos feito ao invés de dar testemunho dele, como nos foi ordenado há milênios.

Vergonha é um livro que eu recomendo com ressalvas, por conta da capa e da questão do sexo, mas de cuja leitura gostei, por tudo que me fez pensar.

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[Resenha] Adultos – Marian Keyes

adultos marian keyes

Título: Adultos

Autor: Marian Keyes

Editora: Bertrand Brasil

Ano: 2021

Páginas: 658

Sinopse:

Adultos, novo romance de Marian Keys, conta a história dos Casey: Uma família perfeita (só que não). Eles sabem bem como manter as aparências, mas quando um acidente acontece e todos os segredos da família são revelados, finalmente chega a hora de encarar a verdade.

Johnny Casey, seus dois irmãos, Ed e Liam, suas lindas e talentosas esposas e seus filhos passam bastante tempo juntos ― festas de aniversário, celebrações de bodas, viagens nos feriados. E são uma família feliz. Pelo menos Jessie, esposa de Johnny ― e também a mais rica de todos ―, pode jurar que eles são, sim. Mas basta chegar um pouco mais perto para sentir o cheiro da farsa. Enquanto uns não se suportam, outros se gostam um pouco demais da conta… Apesar disso, a ordem familiar segue inabalada, até que Cara, esposa de Ed, sofre uma concussão e se torna incapaz de guardar para si o que pensa. Basta um comentário descuidado na festa de aniversário de Johnny, com todo mundo presente, para Cara começar a vomitar todos os segredos cabeludos da família perfeita.
Depois de lavar a roupa suja, os Casey sentem que é chegada a hora de finalmente encarar a realidade, e apenas uma pergunta passa a ocupar os pensamentos dos adultos da família: será que não está na hora de crescer?

Adultos é o mais novo, mais divertido e mais engraçado romance de Marian Keyes, autora do best-seller internacional Melancia.

Adultos é o romance mais recente de Marian Keyes. Recebi o livro na caixinha do Clube de Romance da Carina Rissi e, embora tenha demorado pra ler, considerando a loucura que estava a minha vida nos últimos meses, a experiência foi sensacional. Marian Keyes dispensa maiores apresentações. Autora de obras consagradas como Melancia, Férias, e o meu queridinho, Chá de Sumiço, ela tem uma escrita que é leve e bem-humorada, mesmo quando trata de temas pesados – e ela faz isso em praticamente todos os livros que escreve. Em Adultos, não seria diferente.

A obra conta a história de uma família. Não consegui eleger um protagonista, nem um antagonista, porque da forma como Marian teceu os elementos do seu enredo, todos os adultos da história estão no centro dos conflitos, ora de forma positiva, ora de forma negativa. Em um retrato fiel da vida adulta e dos relacionamentos familiares, Marian Keyes descreve os dilemas e os dramas que irmãos, cunhados, padrastos e enteados, sobrinhos, netos, ex-maridos e namorados vivem quando se atrevem a estar em um relacionamento. Em cada página, os conflitos resultantes dos meros laços familiares surgem e se embaraçam, a ponto de não sabermos mais quem vamos defender.

O livro é longo, mas a história é tão bem escrita, que não percebemos isso e, confesso, fica difícil largar o livro e ir dormir, porque sempre tem alguma coisa importante demais acontecendo e que não podemos simplesmente deixar pra lá. Os capítulos são relativamente curtos e as partes do livro são marcadas por uma contagem regressiva no tempo. O livro começa com uma das personagens, Cara, soltando algumas verdades na cara de toda a família durante a festa de aniversário de seu cunhado, Johnny. A cena nos parece confusa, mas quando a narração volta para meses antes, e começamos a explorar a fundo, quem eram cada um daqueles sentados à mesa no dia da festa, fica mais fácil entender como tudo culminou na catástrofe que dispara a narrativa do livro.

Marian criou personagens cativantes, que não nos abandonam facilmente e que nos emocionam, cada um com uma parte de sua história. Hoje, dois dias depois que concluí a leitura, ainda sinto um aperto no peito ao lembrar deles. Queria um final diferente para alguns, livros extras para contar a história de outros, mas a verdade é que, por mais que tenham sido inventados, Cara, Ed, Johnny, Jessie, Nell, Liam, Ferdia e os demais são reais para mim. São pessoas que eu não me espantaria de encontrar em um bar hoje à noite, por exemplo.

Recomendo muito a leitura, tanto para quem já conhece a escrita brilhante da Marian Keyes quanto para quem ainda precisa ler algum de seus livros. Para quem já a conhece, fica apenas o cuidado de não esperar um humor tão explícito como nos seus outros livros. Esse é mais dramático, trata de assuntos sensíveis e tem uma carga de realidade jogada na nossa cara muito mais forte. Mas, ainda assim, e talvez especialmente por isso, sejam tão recomendados por mim.

E você, já leu? Conta pra mim o que achou?

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[Resenha] Nos Bastidores da Pixar – Bill Capodagli e Lynn Jackson

Autor: Bill Capodagli e Lynn Jackson

Editora: Saraiva

Ano: 2010

Páginas: 184

Sinopse: Os leitores aprenderão a criar o seu próprio parque de inovação por meio dos segredos do sucesso da Pixar, que incluem a simples filosofia de que a qualidade é o melhor plano de negócios. Relata também como esta divertida organização oferece um ambiente de trabalho que incentiva a imaginação, a invenção e a colaboração prazerosa entre as pessoas e os meios de trabalho.

A escolha desse livro pode parecer fora de lugar no blog, em comparação com as minhas leituras habituais e com meus gêneros preferidos. Estou lendo algumas obras de desenvolvimento pessoal, a partir de um guia com vários recursos relacionados à cultura da empresa onde trabalho. A escolha foi aleatória entre as opções disponíveis no guia e, embora eu saiba que existe muita coisa boa publicada no gênero de desenvolvimento pessoal, esse não me pegou. Talvez eu esteja indo na contramão das milhares de resenhas positivas que li sobre a obra, mas sempre sou sincera no que escrevo aqui.

Embora eu tenha achado a leitura do texto do livro arrastada e bem maçante, os temas abordados são muito relevantes, com lições excelentes para aplicarmos no nosso dia a dia. Elas estão espalhadas entre as histórias do desenvolvimento da cultura inovadora da Pixar.

Embora o livro fale de criatividade, inovação e diversão, não me diverti com a leitura! Fiz o que nunca faço em livros e acabei apenas passando o olho por algumas páginas. Realmente não me senti envolvida.

Ainda assim, quero trazer o que achei de mais relevante ao longo das quase duzentas páginas.

Uma das coisas que o livro mais destaca é a respeito da qualidade do nosso trabalho. Segundo o que os autores trazem, nossas tarefas precisam ser feitas da melhor forma possível para alcançar os fins extraordinários que queremos. A excelência em todas as etapas do processo leva a resultados que perduram no tempo. Para alcançar isso, contudo, é preciso colocar nossa dedicação na realização do trabalho, mas não em querer gerar resultados o mais rápido possível. Devemos levar o tempo necessário para que o produto seja algo memorável.

O livro também fala que a diversão no trabalho é essencial para o desempenho das nossas atividades. Segundo os autores, o ambiente divertido leva a pensar para além do comum e a encontrar soluções inovadoras para os problemas que possam surgir. Eles sugerem incentivar a personalização do local de trabalho e fomentar uma cultura de celebração, das conquistas de time e também das pessoais.

Além disso, os autores comentam também sobre a importância de incentivar a automotivação, através da autonomia para desempenhar a atividade profissional de forma criativa. Dizem também que é importante incentivar que os erros sejam encarados como aprendizado que leva à melhora do desempenho futuro.

Você já leu esse livro? O que achou?

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Reflexões - Cartas de Um Diabo Ao Seu Aprendiz #2

O texto de hoje é uma reflexão na segunda carta do livro Cartas de Um Diabo Ao Seu Aprendiz, de C. S. Lewis. No post anterior eu explico um pouco sobre como estamos fazendo essa leitura, a sinopse do livro e trago as reflexões sobre a primeira carta.

Nesta carta, o tema central é a relação do paciente de Vermelindo com a igreja que ele começou a frequentar. Maldanado, o demônio sênior que orienta seu sobrinho nas atividades de um tentador, explica as principais estratégias usadas pelo inferno para desestimular os cristãos em relação à sua igreja local.

Seu foco está em manter os olhos do paciente, assim como vimos no post anterior, em temas superficiais. Quanto mais os olhos do ser humano estiver sobre as coisas terrenas, melhor para Maldanado e para Vermelindo. E, ao mesmo tempo, ele quer que Vermelindo distraia seu paciente a ponto de ele nem mesmo cogitar que a igreja invisível segue triunfante, expandindo-se no tempo e no espaço.

Maldanado quer que Vermelindo explore o fato de que o novo convertido tem um ideal de cristão em sua mente, por não estar em uma igreja tempo suficiente. Ele sugere que seu sobrinho trabalhe na decepção desse paciente sobre essa percepção nas primeiras semanas de conversão. A decepção é um choque de realidade, pois nos despoja do conceito ideal sobre as pessoas e nos colocar diante de pessoas reais. Por outro lado, a estratégia diabólica é nos fazer olhar a hipocrisia alheia enquanto evitamos olhar a sua própria.

Esta carta traz uma reflexão importante sobre o convívio das pessoas na igreja local e toca profundamente em questões pelas quais todos nós passamos, se ficamos tempo suficiente ali.

Há casos de abuso emocional e espiritual causado por relacionamentos nas igrejas, ainda mais envolvendo estruturas hierárquicas na instituição. Muitas vezes caímos nesse tipo de relação abusiva, pois acreditamos que por estarem numa igreja as pessoas estão curadas e são maduras. Mas nós, muitas vezes, não estamos. Como podemos esperar isso dos outros? É claro que o abuso é um comportamento errado e deve ser punido. Nosso papel é ter cautela ao fazer amizades para não nos machucarmos demais.

Há infinitas situações em que pessoas são excluídas de grupos, pelos motivos mais diversos. Costumamos ver a igreja como a “família sem qualquer falsidade e vivendo a verdade unida em amor”, mas quando convivemos as coisas são bem diferentes. As pessoas às vezes não agem como deveriam nem se importam conosco. Nós também somos assim, se pensarmos bem sobre nossas ações.

Também existe a famosa fofoca, que faz suas vítimas no mundo inteiro e não tem o menor preconceito quanto ao local onde está se espalhando. As decepções que podemos ter com seres humanos dentro da igreja formam uma lista imensa que eu poderia passar horas escrevendo aqui. A ideia do texto não é essa.

A carta tem uma função que é nos mostrar que devemos estar atentos para o que criticamos nas outras pessoas. Devemos prestar muita atenção se não estamos exigindo delas uma perfeição que é impossível que tenha, ou as medindo com padrões que nem nós mesmos ainda alcançamos. É claro que isso não significa que estamos com o passe livre para julgar todos aqueles que cometem um pecado do qual conseguimos nos livrar ou que não é nosso tipo de tentação, certo?

É fato que normalmente ignoramos nossa própria hipocrisia quanto aos outros na igreja e esperamos que eles sejam e façam aquilo que nos agrada, mas sem nenhuma ação nossa em retorno. O problema que enxergamos nos outros está em nós também. Por que não começar a lidar com o nosso pecado antes de questionar o alheio?

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Reflexões - Cartas de Um Diabo Ao Seu Aprendiz #1

O grupo de leitura do qual participo está começando a leitura de mais um livro. O escolhido da vez é Cartas de Um Diabo Ao Seu Aprendiz, de C. S. Lewis e publicado pela editora Thomas Nelson Brasil.

Irônica, astuta, irreverente. Assim pode ser descrita esta obra-prima de C.S. Lewis, dedicada a seu amigo J.R.R. Tolkien. Um clássico da literatura cristã, este retrato satírico da vida humana, feito pelo ponto de vista do diabo, tem divertido milhões de leitores desde sua primeira publicação, na década de 1940; agora com novo projeto gráfico, tradução atual e capa dura.

Cartas de um Diabo a seu Aprendiz é a correspondência ao mesmo tempo cômica, séria e original entre um diabo e seu sobrinho aprendiz. Revelando uma personalidade mais espirituosa, Lewis apresenta nesta obra a mais envolvente narrativa já escrita sobre tentações — e a superação delas.

Nosso grupo está se propondo a ler essa obra de maneira mais lenta e bastante criteriosa, para estudar os temas tratados por Lewis em cada uma delas. O material é simples e tem um certo humor. Apesar disso, é de grande relevância para refletirmos sobre nosso comportamento em relação a Deus, sua Palavra e as nossas relações interpessoais na família, no trabalho e na igreja.

Nossa primeira sessão abrangeu a primeira carta. Já pudemos ter um gostinho de como serão as próximas reuniões, pois ficamos por mais de uma hora conversando, sem esgotar os assuntos que poderíamos tratar.

Nesse primeiro texto Lewis nos apresenta aos personagens envolvidos nas correspondências que leremos ao longo das trinta e uma cartas do livro. Maldanado é um demônio sênior que escreve as cartas para orientar o trabalho de seu sobrinho Vermelindo, um demônio júnior, em afastar os seus pacientes do Inimigo.

Ao longo do livro vamos acompanhar o trabalho de Vermelindo quanto a um paciente específico. Cada carta trata de vários assuntos. Meu propósito para escrever uma série e não só a resenha do livro após a leitura foi registrar a reflexão sobre os temas que mais me chamaram a atenção em cada sessão dos nossos estudos.

O tema que saltou aos olhos no primeiro texto foi a estratégia usada por Maldanado e que ele sugere ao seu sobrinho. Essa ação consiste em desviar a atenção do paciente dos assuntos que realmente importam e fazê-lo se concentrar naquilo que é imediato, físico e banal.

Segundo Maldanado, fazer os seres humanos pensarem é um risco enorme para o trabalho demoníaco. Ele declara que esse raciocínio promove o pensamento sobre temas sérios, que estão alojados em um âmbito do nosso ser ao qual os demônios não acessam, mas Deus sim.

O que nos ensinam ao longo da vida cristã, pelo menos para quem cresceu em contexto pentecostal e neopentecostal nos anos 90/2000, é o contrário disso. Alguns dizem que se somos cristãos, não precisamos nos envolver com a cultura ou com os temas da atualidade, mas apenas com os assuntos que importam à igreja. Por outro lado, há aqueles que dizem que estudar teologia demais pode nos afastar de Deus.

Para as mulheres a orientação é ainda mais perniciosa. Dizem alguns que se o nosso papel é servir no lar, não há necessidade de estudarmos para desenvolver atividades profissionais ou ter conhecimentos gerais. Outros dizem que se não podemos pregar na igreja, então o estudo teológico é dispensável para nós. Por isso é que vemos, de forma mais ostensiva, no caso de mulheres, um desestímulo quanto ao estudo, de forma bem disfarçada. Nossas programações eclesiásticas se resumem a planejar eventos, refeições e presentes para datas comemorativas. Nossas sociedades internas promovem encontros com comida e comunhão, trazem uma breve reflexão sobre temas do universo feminino e assim seguimos apartadas dos temas de interesse teológico comum.

Ao contrário do que somos normalmente ensinadas, o estudo e o raciocínio sobre o que cremos é o meio mais sólido para nos aproximarmos de Deus. Isso nos levará a uma fé robusta e que não vacila diante das dificuldades. Graças a Deus, estamos buscando mudar isso ao levantar esses temas para discussão entre mulheres, abordando a teologia de forma geral e não os temas especificamente “femininos”.

Maldanado traz alguns exemplos do que usa para distrair os seus pacientes destes assuntos sérios. Ele diz que para afastar as pessoas daquilo que realmente importa é só fazê-los se concentrar em suas necessidades físicas mais básicas e imediatas. É verdade que acabamos cedendo a elas em alguns momentos, como o sono, a preguiça e o que ele chama de “pressões do cotidiano”. Agora que estamos estudando o assunto a fundo, temos a oportunidade de trabalhar de maneira ativa para vencer essas investidas, priorizando as coisas certas. Nas próximas semanas, continuaremos acompanhando as cartas e os principais assuntos abordados. Você pode colaborar com esses textos, deixando as suas impressões nos comentários.

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[Resenha] A Canção da Órfã – Lauren Kate

a canção da órfã

Título: A Canção da Órfã
Autor: Lauren Kate
Editora: Record
Ano: 2019
Páginas: 322

Veneza, século XVIII. Época em que as pessoas usavam máscaras durante a maior parte do ano; quando os amantes, em suas gôndolas, erguiam seus disfarces sob pontes para trocar um beijo; quando a música era a maior de todas as artes. Em uma era de excessos, dois órfãos – uma soprano e um violinista – sonham em ter uma família e um lugar que possam chamar de lar. Duas almas atormentadas que se entregam à música e aos mistérios das calli da cidade, em cidade, em busca de amor e redenção.

A Canção da Órfã é o livro de estreia no gênero de romance histórico de Lauren Kate. A autora ficou conhecida pela série Fallen, um romance jovem adulto sobre anjos. Não li essa série, pois o tema não costuma me chamar a atenção, mas reconheci o nome da autora quando A Canção da Órfã chegou no final do ano passado pela caixinha do Clube de Romance da Carina Rissi.

A história é sobre Letta e Milo, dois órfãos que viviam no orfanato Incuráveis. Eles foram abandonados quando ainda crianças, por suas mães e não tinham outra escolha a não ser seguir o que o destino os havia reservado. Mino, como homem, provavelmente arrumaria um emprego e deixaria o local. Já Letta, como outras mulheres, seguiria a carreira de cantora da igreja, caso conseguisse uma vaga no coro.

Ela e suas companheiras de orfanato não podiam sair sozinhas, muito menos fazer parte do carnaval, que parecia ser algo constante na Veneza do século XVIII, em que a história se passa. Os dois se conhecem por acaso, quando Letta, em uma de suas idas ao telhado para pensar sobre a sua vida e imaginar como seria ter uma vida como a das mulheres que via ali de cima.

Ao compartilharem seus sonhos e o amor pela música, além de uma música em comum, nasce ali uma grande amizade, que logo se transforma em amor. Entretanto, algumas reviravoltas da vida, além de diferenças nos sonhos de cada um acabam separando o caminho dos dois e cada um vai seguir seu caminho.

Mino vai seguir sua vida como aprendiz no estaleiro, enquanto Letta é promovida para o coro, e também ainda consegue cantar, algumas noites, em um cassino chamado La Sirena. Seus caminhos teriam tudo para não se cruzarem mais, se não fosse o destino, que deu seu jeitinho para que os dois se reaproximassem.

A leitura me agradou bastante. A autora traz elementos históricos bastante consistentes e podemos nos imaginar pelas ruas e canais de Veneza, desfrutando do Carnevale daquele tempo distante. A escrita é bastante poética e nos leva justamente para dentro dos sentimentos de Letta e de Mino. Cada evento que acontece nos alegra e nos emociona como se estivéssemos na pele dos personagens.

Talvez por isso, por ser tão real e tratar de sentimentos tão humanos, apesar de usar fatos que eram costumeiros em uma época tão distante, a narrativa em um certo ponto toma o ritmo da vida: lenta, morosa e sem muitas novidades por algum tempo. Mais ao final o ritmo se torna mais ágil, levando a um final belíssimo.

Eu recomendo muito a leitura. Não li tantos romances históricos na vida, mas já é um gênero que tem estado no meu radar e no qual eu quero investir em futuras leituras. Caso a Lauren Kate decida explorar mais este gênero, possivelmente lerei suas obras!

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[Resenha] Eleanor & Grey – Brittainy C. Cherry

Eleanor & Grey

Título: Eleanor & Grey

Autora: Brittainy C. Cherry

Editora: Record

Ano: 2020

Páginas:406

Quando me apaixonei por ele na juventude, eu não sabia muito da vida. Sabia dos sorrisos dele, das risadas dele, do frio na barriga que sentia quando ele estava por perto.
A vida era perfeita… Até que deixou de ser, e fomos forçados a seguir caminhos diferentes. Abandonei minha primeira paixão, me agarrei a nossas memórias e sonhei com o dia que o encontrava de novo.
Mas, quando meu sonho se tornou realidade, não foi como eu havia imaginado.

O que eu achei de Eleanor & Grey

Recebi este livro na caixinha do Clube da Carina. Foi o primeiro que gostei, entre os inéditos deste ano e considerando algumas exceções do fim do ano passado. Talvez por ser uma história ambientada em um mundo mais próximo da minha idade e realidade atuais, mas muito mais pela abordagem da autora aos temas tratados, que foi mais séria que os anteriores. Mas esse post é sobre Eleanor & Grey, não sobre as escolhas da Carina Rissi para seu clube. Por isso, vamos à história!

A história de Eleanor & Grey começa quando os dois personagens principais são adolescentes. Cada um vem de uma família completamente diferente e são pessoas completamente diferentes também. Eleanor vem de uma família amorosa e unida, mas é introspectiva e antissocial, fã incondicional de Harry Potter e a típica adolescente esquisita da escola. Grey, por outro lado, é lindo, um dos mais populares da turma, vive em festinhas. Seu ambiente familiar é completamente desestruturado, os pais são ausentes e vivem brigando quando estão em casa, mas ele passa a maior parte do tempo sozinho. Grey mora do lado rico da cidade, e Eleanor do lado mais simples, ainda que não seja uma pessoa pobre.

Mesmo sendo tão diferentes e vivendo em mundos que não se tocavam, os dois acabam começando a conversar e se conhecem melhor quando Ellie é forçada a ir em uma festa com sua prima, Shay. A partir de então, os dois desenvolvem uma amizade que acaba se tornando algo mais, mesmo que sem um nome definido e sem beijos apaixonados o tempo todo.

Quando a mãe de Ellie adoece gravemente e os pais dela decidem mudar para outro estado, para satisfazer ao último desejo dela de estar perto do mar, eles tentam manter a amizade, por uma troca de e-mails constante. Mesmo com todos os obstáculos, eles conseguem se conectar e se manter como um suporte mútuo. Entretanto, a vida acontece e, com a decisão do pai de Ellie de não voltar para onde eles moravam, a conexão entre Ellie e Grey se torna cada vez mais difícil. Os horários deles não batem, cada um tem seus compromissos e sua agenda maluca, e os e-mails se tornam raros e cada vez mais concisos. Até que eles se afastam completamente.

Nesse ponto a história dá um salto de 16 anos e encontramos Ellie, de volta à cidade onde morava antes da mãe adoecer, ainda trabalhando como babá, o que fazia desde o começo da história. Ela acaba de ser demitida de um emprego e está frustrada, mas recebe a recomendação de sua ex-patroa e tem uma nova entrevista, na casa de uma família muito rica. Ela consegue o emprego e fica muito surpresa quando descobre que seu novo patrão é Grey, que é pai de duas meninas, acabou de ficar viúvo e está muito diferente do que ela conheceu quando adolescente.

A vida dos dois teve muitos acontecimentos ao longo de todos os anos em que estiveram separados. Agora, em uma relação de trabalho, eles precisam aprender a lidar com o que conheceram inicialmente e a pessoa que tem diante de si agora. O amadurecimento dos dois fica claro quando, mesmo com todas as lembranças do passado, a vida presente se impõe entre eles e os leva a tomar suas decisões a cada capítulo.

O livro é narrado com pontos de vista intercalados entre Ellie e Grey, por isso conseguimos entender o que aconteceu com cada um deles no passado e também as suas reações no presente.

A história lida com temas maduros, com a vida que precisa de decisões pensadas e calculadas e por isso pode deixar a desejar no sentido da química da paixão adolescente que é predominante em livros do gênero new adult. Por isso, eu o classificaria mais como um romance contemporâneo. Os sentimentos que existem entre os protagonistas são sutis e colocados de forma delicada e sem passar por cima da realidade em que estão inseridos. Ainda assim, acredito que as duas cenas mais quentes inseridas no livro não precisariam existir, já que todo o restante da história foi escrito sem apelar para esse recurso.

Senti falta do desenvolvimento da história de alguns personagens, especialmente os pais do Greyson, ainda que no contexto geral fosse bem possível imaginar alguma coisa. De qualquer forma, é uma falha nessa segunda parte do livro.

A trama é basicamente sobre segundas chances para o amor, ainda que nesse caso nada do que aconteceu para impedir que eles ficassem juntos tivesse sido por algum erro deles. A realidade da história está até nisso. Às vezes a vida, simplesmente, acontece e impede que os nossos planos sejam realizados da forma como os colocamos no papel. Pode ser que a gente tenha uma segunda chance, lá no futuro, mas isso também vai depender de como a vida vai acontecer…

Claro que, como cristã, eu não entendo essas reviravoltas como meros acasos. Eu sei que em tudo o que acontece tem o dedo de Deus, mesmo quando não conseguimos aceitar ou entender, no começo, o rumo que tudo tomou. E eu também sei que se alguém volta do passado, pra ficar ou apenas pra passar mais um tempo, significa que tem algum propósito de Deus ali.

Acredito que a leitura vale a pena. É um livro que prende a atenção e que cativa justamente pelo toque de realidade e proximidade com questões que lidamos nas nossas vidas. A tradução está bem feita, a edição também é caprichosa e a capa linda. Fiquei com vontade de ler os outros livros da autora, que eu vivo colocando no carrinho de compras da Amazon, mas ainda não trouxe nenhum pra casa.

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Liturgia do Ordinário

Este post não está marcado como resenha, pois ao invés de simplesmente escrever uma resenha, assim como fiz com a série de posts sobre o livro Socorro, não tenho tempo, achei mais interessante escrever sobre as reflexões que esse livro me trouxe.

O livro é o Liturgia do Ordinário, escrito por Tish Harrison Warren. Eu li a versão original, em inglês, pois a versão traduzida estava disponível apenas para assinantes da Box95, que eu parei de assinar há algum tempo.

Este livro traz uma série de reflexões sobre como cada acontecimento do nosso dia pode nos fazer refletir e aprender sobre Deus e as verdades sublimes do evangelho. Fiz alguns comentários breves aqui sobre o que me chamou a atenção em cada capítulo. A linguagem do livro é bastante simples e nos faz pensar bastante. Vale a pena a leitura.

Acordar: A primeira lição que aprendemos é a de que somos amados por Deus, independente do que façamos. O amor de Deus por nós não é dimensionado a partir de nossos esforços para chamarmos sua atenção.  

Arrumar a cama: Aqui aprendemos sobre as tarefas repetitivas, que nos ensinam, no dia a dia e na liturgia do nosso culto, a amar determinadas coisas. Assim como aprendemos em Você é aquilo que ama, essas repetições nos direcionam o coração a algo, que pode ou não ser Deus. Nossa vida inteira é formada de pequenos hábitos e práticas que repetimos todos os dias.

Escovar os dentes: Aprendemos que precisamos cuidar do corpo na medida certa. Não precisamos considerar o corpo desnecessário para nossa saúde espiritual, mas também não devemos ter uma preocupação exagerada com a estética ou com dietas e exercícios. Devemos cuidar do nosso corpo pelo que ele é. Uma criação de Deus, preciosa e amada e que está incluída no plano de redenção de Cristo. O fato de Jesus ter encarnado é uma prova de que nossos corpos serão renovados como o dele foi e estarão conosco pela eternidade. Nosso corpo deve fazer parte da nossa adoração, tanto na nossa vida ordinária, quanto em atos especialmente litúrgicos.

Perder as chaves: Aqui somos confrontados em nosso comportamento quando as coisas fogem do nosso controle. É muito fácil ser uma boa pessoa ou um bom cristão quando tudo está acontecendo conforme o que a gente planejou. É quando as coisas dão errado e o apocalipse acontece que as nossas falhas, quem nós somos debaixo de todas as capas que nos colocamos, se revela e ainda que momentaneamente vem a tona (e não é que este é exatamente o sentido de apocalipse?). Nesses momentos, não precisamos cair no sentimento de culpa, mas sim é essencial identificar aquilo em nós que não glorifica a Deus e confessar essas falhas a Ele e trabalhar para que elas sejam corrigidas. Esses eventos servem também para mostrar nossas verdadeiras lealdades e idolatrias. Quando algo sai de nosso controle, somos confrontados com os falsos deuses da vida confortável, da estabilidade, da segurança que constantemente colocamos no lugar de Deus em nossa vida.

Comendo sobras: Ainda que a nossa relação com a comida não seja meramente de alimentação, mas tenha diversos aspectos, entre eles o social e o emocional, a maior parte do tempo, nossas refeições são rotineiras e repetitivas. Assim como as refeições especiais são uma exceção, a nossa experiência com a igreja e a vida devocional é formada das diversas lições simples e constante, que nos fortalecem e nos nutrem para o dia a dia, não das coisas extraordinárias que podem acontecer de vez em quando. Nossa relação com a fé tem sido muito influenciada pela relação de consumo que trazemos de outras áreas da vida, porque temos buscado na igreja aquilo que nos agrada, diverte e chama a atenção, ao invés de encarar o culto como algo que oferecemos a Deus ou como um lugar onde somos nutridos naquilo que precisamos.

Brigar com meu marido: Este é mais um capítulo que traz um lado de nós do qual não nos orgulhamos. Aprendemos que ser pacificadores não é tão simples para ser aplicado nas relações mais próximas de nós. Somos testados o dia todo por aqueles que estão mais perto. Perdemos a paciência e magoamos com muita facilidade, mas também somos ensinados a perdoar e a pedir perdão todos os dias e várias vezes ao dia. 

Responder e-mails: Qualquer que seja a nossa atividade diária, por menor que seja a função, o trabalho não é um fim em si mesmo e não é feito para nós. Nossa satisfação pessoal e o reconhecimento dos outros é muito agradável, mas não pode ser o nosso objetivo. Ainda que não sejamos promovidos ou ganhemos mais, devemos trabalhar com a mesma motivação e qualidade, porque trabalhamos para Deus e para servir às pessoas, vivendo na prática os princípios bíblicos.

Parada no trânsito: Aqui trabalhamos a questão da impaciência, quando temos que esperar as respostas de Deus. A impaciência é a raiz de todo problema em relação ao pecado, porque demonstra nossa incapacidade de esperar pelo que Deus está fazendo por nós. Ele está trabalhando em nós e através de nós, para nos levar até ele, então boa parte do que temos a aprender na vida tem a ver com espera, por mais que não estejamos acostumados a esperar por nada, nesse mundo acelerado em que estamos vivendo. 

Ligar para uma amiga: A comunhão entre amigos na igreja, entre pessoas que não seríamos amigos se não fosse pela fé em comum é a grande beleza da igreja invisível. Mais do que apenas uma amizade por interesses comuns o vínculo que existe é a fé. As necessidades da amizade (ligar para uma amiga, ou atender uma ligação de uma amiga), assim como a liturgia, ensina que somos chamados e respondemos a este chamado, constantemente, até que Jesus volte. Estamos indo até ele, mas também ele está vindo até nós.

Tomar chá: Precisamos aprender a entender a necessidade do lazer como parte de nossa rotina. Não podemos nos esquecer de fazer as coisas que gostamos, na medida certa, sem idolatrar o lazer a ponto de somente nos guiarmos por aquilo que amamos nem deixar de fazer coisas importantes para gastar tempo com atividades de entretenimento.

Dormir: O sono é uma necessidade básica do ser humano. É uma característica da nossa limitação, da nossa finitude e da necessidade que nosso corpo tem de se recuperar. É uma lembrança de que somos frágeis e não duraremos para sempre. Também é uma forma de nos lembrarmos todos os dias de que dependemos de Deus para nos levantarmos, para cuidar de nós enquanto não estamos conscientes e de termos a certeza de que ainda que não estejamos no controle de tudo o tempo todo, Ele está. Ele sabe muito bem o que precisamos e cuida de todas as coisas, mesmo depois que fechamos os olhos. 

Espero que este post tenha contribuído para as suas atividades diárias, em casa ou no trabalho, e até mesmo na igreja, e a refletir até mesmo sobre as coisas simples do seu dia a dia. Tem algo que não foi abordado aqui? Conta pra mim nos comentários!

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[Resenha] Desencantada – Carina Rissi

Título: Desencantada

Autor: Carina Rissi

Editora: Verus

Ano: 2018

Páginas: 476

Sinopse:

O quinto volume da série best-seller Perdida.

Valentina de Albuquerque descobriu muito cedo que não é nenhuma princesa encantada. Em vez de bailes e romance, tudo o que a jovem deseja é encontrar um jeito de viver com dignidade longe do pai e da madrasta, que tem como hobby fazer da vida dela um inferno. A oportunidade surge com uma proposta de casamento. Quase passando da idade de se casar, Valentina cogita aceitar. Seu coração não se alvoroça com o pretendente, mas ela não está à procura do amor. Seria um bom arranjo… se o capitão Leon Navas não cruzasse o seu caminho. O misterioso espanhol é mal-educado, irritante, atrevido — além de lindo —, e Valentina ficaria muito feliz se jamais voltasse a vê-lo. Mas o destino parece decidido a reuni-los, e, após um equívoco embaraçoso, ela está noiva de Leon, de quem pouco sabe, exceto que seu coração dispara toda vez que seus olhares se cruzam e que irritação não é o único sentimento que o capitão lhe desperta. Então Valentina sofre um terrível acidente. Assustada, porém disposta a provar que não foi um simples acaso, ela vai atrás do responsável. Entre suspeitas, disfarces, segredos e contratempos, a moça acaba sucumbindo à irresistível e devastadora paixão, sem se dar conta de que o perigo ainda está à espreita… Poderá uma garota nem um pouco encantada viver um conto de fadas e conseguir o seu final feliz?

O que eu achei de Desencantada?

Desencantada conta a história de Valentina, uma personagem que conhecemos desde o primeiro volume da série. Neste livro, contado a partir da perspectiva dela, conhecemos mais sobre a sua história e seus dramas familiares.

Valentina acabou se tornando uma moça com pretensões diferentes das de sua idade. Após o casamento do pai com Miranda ela precisou aprender a viver de forma muito diferente. A família havia perdido o patrimônio, ela não tinha mais um dote atraente e teve que se mudar da vila. Ela vê no casamento uma oportunidade de deixar a casa do pai para ter um pouco de paz. Ela até recebe uma proposta de casamento, mas isso não tem nada de romântico. Ainda assim, ela não aceita.

Porém, parece que o destino está determinado a colocá-la diante do amor. E aparentemente este chega personificado em Leon Navas, um capitão espanhol, lindo e irritante na mesma proporção. Após terem sido flagrados em uma situação constrangedora, são obrigados a se casar.

As coisas mudam quando ela sofre um acidente e é dada como morta. Porém, o tal acidente foi na verdade uma tentativa de homicídio. Como não tem muitas referências sobre seu algoz, ela precisa de mais informações. Para investigar, volta à cidade com uma nova identidade, para tentar descobrir o que lhe aconteceu.

Durante essa trajetória de medos e desconfianças, ela se aproxima mais e mais de Leon. Tantas reviravoltas nos deixam agoniados pela próxima página e, gostando ou não da história, é impossível largar antes do final. Realmente, li o livro de uma tacada só em um fim de semana.

A leitura tem as características marcantes da Carina. Livros longos que não nos incomodam, pois os personagens são envolventes, com diálogos ágeis. O texto é escrito de forma a nos colocar na pele dos personagens e quase prever suas falas e sentimentos, segundos antes de ler cada frase. É uma leitura que recomendo muito, apesar de algumas críticas, que não tem tanto a ver com a história em si.

Este é o quinto volume da série Perdida, da Carina Rissi. Embora seja parte de uma trama completa, não é impossível ser lido de forma independente. Os elementos necessários para compreender a história são todos explicados, ainda que de forma superficial, e não há problema com isso.

Perdida é um dos meus livros favoritos, que me apresentou aos romances de época e outros autores nacionais. Na época de seu lançamento, o estrondoso sucesso da premissa fez com que os leitores pedissem cada vez mais. E é aí que eu faço a minha crítica (e não só aos livros da Carina): as editoras querem ganhar dinheiro, é óbvio. Escrever, publicar e todas as atividades envolvidas na produção de um livro são trabalho e devem ser muito bem remuneradas por isso. Mas, com isso, algumas vezes, elas acabam dando passos não muito inteligentes ao explorar demais uma história ou um universo.

Perdida é um livro fantástico, com uma premissa ousada e que levou a Carina até pra fora do país. Quando eu a conheci, já havia até sido lançado o segundo volume, e eu achei que estava bom, que a história podia acabar. Já lemos outros livros dela e sabemos que criatividade é o que não falta naquela cabecinha. Mas na ocasião em que ela havia vindo à minha cidade para um evento, ficamos sabendo que a série seria composta de seis volumes. Fiquei com medo.

Não acho que a Carina perdeu a mão. Ela soube expandir o universo que havia criado de forma a que as coisas fizessem sentido e ficassem sem furos, temos as suas melhores qualidades em seu texto e também é possível perceber o quanto amadureceu enquanto escritora ao chegar em Desencantada.

Mas ainda que não tenha perdido a mão, acho que não precisava. Amo as histórias que ela escreve, mas confesso que gostaria de ler coisas diferentes com personagens diferentes. Quero me apaixonar do zero, por outros personagens. Amo os Clarke, Sofia e toda a essa turma que conheci, mas acho que já está na hora de mudar de ares.

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