Cada filho é único

Desde quando descobri que estava grávida novamente, depois de quase quatro anos, fiquei pensando em como seria cuidar novamente de um bebê. A sensação que eu tinha, durante a gestação, se provou verdadeira quando minha filha nasceu: eu não sabia por onde começar. Passado tanto tempo entre um bebê e outro, eu não me lembrava de muita coisa. E, vamos combinar, os nossos neurônios vão embora durante a gravidez e não voltam mais.

O esforço para me lembrar do que tinha feito com meu primeiro filho foi enorme. Claro, eu me lembrei de muita coisa, com a ajuda das pessoas que conviveram conosco durante aquelas primeiras semanas (não foram tantas, já que ele nasceu durante a pandemia). Porém, para minha surpresa, quase nada do que me vinha à memória era muito útil. Minha segunda filha é completamente diferente do meu primeiro filho.

Cheguei a pensar, durante a gravidez, em comprar novamente um curso sobre sono, que me deu insights maravilhosos e me ajudou a criar uma rotina muito eficiente com meu filho. A crise financeira me obrigou a priorizar outras compras para a minha filha, mas no fim das contas, eu percebi que nem usaria o conteúdo do curso, porque ela é, claro, diferente do meu mais velho. Não vou dizer que ela não está, com seus quase dois meses de vida (quando escrevo este texto), criando um certo padrão de sono/vigília, mas esse esquema não tem nada a ver com o padrão do meu mais velho.

Não só o sono, mas a fome, as reações à fralda suja, o jeito de dormir, as expressões… A lista de diferenças entre eles é tão grande! Eu pensava que a maior delas seria o fato de serem um menino e uma menina, mas suas particularidades vão muito além. Eu nem deveria ter me surpreendido tanto, claro! Seria óbvio pensar que duas pessoas são diferentes e têm suas características específicas. Mas acho que eu estava tão focada em seguir a receita do que deu certo com o primeiro, que não prestei atenção a este detalhe.

Nos primeiros dias, a expectativa que eu criei em torno do poder dessa receitinha de bolo foi tanta, que eu, que pensei que estava craque no quesito “puerpério” sofri bastante nas primeiras semanas. Eu chorava e sofria por uma série de tentativas frustradas no sono, na amamentação, nas sonecas… “Mas eu fiz exatamente assim antes e deu certo!” — era meu grito interno de indignação. Por que a criança não estava cumprindo o combinado, se eu estava entregando minha parte do acordo de maneira exemplar?

Além de tudo isso, levei um tempo para perceber a principal diferença entre os dois puerpérios — e quando finalmente entendi, foi como se uma peça essencial do quebra-cabeça se encaixasse. No segundo puerpério eu continuo tendo que lidar com o primeiro filho, que segue aqui, com suas demandas, necessidades, marcos de desenvolvimento, frases fofas, momentos desafiadores, doenças… É impossível seguir a receita se os ingredientes mudaram.

As minhas necessidades também mudaram e, com isso, a carga de expectativas sobre a volta ao trabalho e a necessidade de dar conta de muita coisa que antes eu não precisava também começou a me sufocar. No primeiro, eu estava em um contrato CLT, de licença maternidade, com um bebê em casa (e dois cachorros que eu deixava na garagem para não atrapalharem do lado de dentro). No segundo, sou autônoma, responsável por prospectar clientes e entregar trabalhos para receber os pagamentos, com um bebê em casa e também uma criança que precisa que eu veja a agenda, confira a tarefa, pense na lista do lanche, converse, dê atenção, brinque, abrace, beije, esteja perto.

Depois de entender essa diferença, eu entendi que esse segundo puerpério veio como um instrumento de Deus para me ensinar ainda mais a depender dEle. Tem coisas que só consigo expressar — e que só se resolvem — em oração. As lições até agora têm sido valiosas: aproveitar ainda melhor o tempo, entender mais sobre os meus níveis de cansaço e saber fazer pausas quando possível, delegar algumas tarefas (por mais que o resultado não seja como quero), aproveitar cada oportunidade de estar presente com meu mais velho. Sei que tem muito mais por aí.

O tempo que eu tinha entre sonecas para lavar as roupas de um bebê se transformou agora no tempo em que eu começo um trabalho, coloco louça e roupa na máquina, e lido com a roupa de duas crianças. Ainda preciso entender onde as outras demandas da minha vida vão se encaixar, e talvez essa seja a grande lição: não será como da primeira vez.

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