Não é segredo pra ninguém que eu amo romances de época. Comecei a ler esse gênero por Julia Quinn, como muitos leitores e, embora ainda não tenha conhecido tantas obras assim, já me apaixonei pelas histórias de duques e condes e aquele universo cheio de bailes e vestidos maravilhosos.
Também já sofri um bocado por não esconder minhas preferências literárias de ninguém. Sempre tem aquele amigo mais esnobe que acha que se você não está lendo um clássico não é bom leitor o suficiente, e tem o que simplesmente critica porque você não lê o mesmo que ele.
Como eu não me importo com o que as pessoas acham dos meus hábitos literários, nem tenho vergonha de admitir que adoro um romance e um final clichê, continuo aqui defendendo os romances, e agora também os de época, com unhas e dentes!
Sempre que digo que gosto de ler esses romances de época, acabam me perguntando porque eu leio esses livros, o que eu acho deles, o que eles tem de tão bom assim. Já que falo tanto sobre isso, porque não escrever também?
Já tinha pensado em escrever alguma coisa sobre romances aqui, mas ainda estava só no planejamento, quando ouvi o podcast da Arqueiro sobre Romances de Época e percebi que tinha chegado a hora de tirar o post do rascunho! Alguma coisa que vou escrever aqui eu aprendi nesse episódio do podcast. Mas não vou só replicar o que as meninas falaram, vou colocar as minhas impressões também.
Onde tudo isso começou
Os romances de época começaram a fazer sucesso nas editoras não faz muito tempo. Antes esse tipo de literatura era encontrada em banca de jornal (os famosos romances de banca, com aquelas capas apelativas). A maioria deles vinha pra cá pela Harlequin se não me engano. Até hoje esses livros podem ser encontrados em sebos e alguns estão sendo resgatados da banca para serem reeditados por editoras.
Como as meninas falaram no podcast, o interesse das editoras foi despertado quando elas perceberam que havia público pra esse gênero por aqui. Quando os livros começaram a ser publicados, já haviam grupos de leitores no orkut, Facebook etc., que quando não encontravam o livro por aqui, compravam no exterior mas não ficavam sem suas histórias.
O preconceito com esse tipo de literatura vem daí. As capas com homens sem camisa apelavam para as românticas irrecuperáveis, as donas de casa que encontravam em histórias leves e melosas, o descanso de seu dia a dia pesado. Com a descoberta do grande potencial dessas histórias, as editoras tem dado uma nova roupagem a esses livros, especialmente a partir das capas. A própria editora arqueiro trouxe um desfile de vestidos maravilhosos nas capas dos livros de época que tem publicado. A intenção é mudar o foco do apelo sexual destas histórias para o ambiente ou a época em que as tramas se desenrolam.
A maioria das histórias escritas no exterior acaba retratando o período regencial (quem souber história pode dizer um pouco mais sobre esse período), um curto espaço de tempo da história da Inglaterra, em que a própria nobreza estimulava a realização de festas, fomentava a literatura e a arte. Por isso, esta época acaba sendo a queridinha das autoras.
Porque uns amam e outros detestam?
Uma das maiores críticas a estes livros são os finais felizes e os romances clichês. Mas acredito que aqui autores e leitores concordam. Quem busca esse tipo de leitura, embora se torne cada vez mais crítico e exigente, até mesmo dentro do próprio gênero de romances de época, quer mesmo é se divertir um pouco. Ao escolher um romance de época, buscamos uma realidade tão diferente da nossa, que até mesmo um final feliz daqueles bem melosinhos mesmo, é maravilhoso.
Uma característica importante destas histórias é que normalmente não são escritas para serem livros únicos. Ao invés de retratarem apenas a história de um casal, estas obras trazem muito conteúdo relacionado aos personagens secundários. A riqueza de detalhes não fica apenas no figurino ou nos ambientes e jogos de chá que de tão maravilhosos, quase podemos ver e tocar enquanto lemos. Os relacionamentos de amizade e os vínculos familiares são muito bem descritos. Tanto que é difícil abandonar aquelas pessoas depois da última página. Assim, as histórias são escritas em séries, que retratam famílias inteiras, ou gerações dessas famílias, e suas relações entre si e com outras pessoas.
Tanto é assim que na série Os Bridgertons, que foi a primeira que li da Julia Quinn, a personagem que era inicialmente secundária, Violet – a matriarca – tornou-se tão forte que era essencial em todos os livros da série, além de ganhar um conto especial sobre ela no último volume e, além disso, garantiu para a família uma nova série, sobre as gerações anteriores dos Bridgertons.
Uma pitada de fantasia
Normalmente as personagens destes livros não tem a menor preocupação com dinheiro, pois são membros da nobreza e o tem de sobra. Estão em uma época tão distante de nós que os figurinos, os costumes, as regras sociais e as prioridades são tão diferentes que nos deixamos levar pela pura fantasia e conseguimos até mesmo ouvir a música dos bailes e corar ao mais inocente toque de um cavalheiro.
Esse é o tipo de história que nos faz suspirar, que dá uma certa esperança de que ainda possa existir romantismo, cordialidade, elegância. Nestas obras, o amor e o desejo são expressos de formas tão sutis, que nos ajudam a lembrar que a construção de um relacionamento e o fortalecimento de uma paixão moram nos detalhes e que isso pode sim ser cultivado nos dias de hoje. Basta que olhemos com delicadeza para o que temos à nossa volta, os olhares furtivos, os meios-sorrisos, um bilhete ou um botão de rosa.