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[Resenha] As Crônicas de Nárnia – C.S. Lewis

as crônicas de nárnia

Título: As Crônicas de Nárnia

Autor: C. S. Lewis

Editora: Martins Fontes

Ano: 2009

Páginas: 752

Viagens ao fim do mundo, criaturas fantásticas e batalhas épicas entre o bem e o mal – o que mais um leitor poderia querer de um livro? O livro que tem tudo isso é O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, escrito em 1949 por Clive Staples Lewis. Mas Lewis não parou por aí, seis outros livros vieram depois e, juntos, ficaram conhecidos como As crônicas de Nárnia.

Nos últimos cinquenta anos, As crônicas de Nárnia transcenderam o gênero da fantasia para se tornar parte do cânone da literatura clássica. Cada um dos sete livros é uma obra-prima, atraindo o leitor para um mundo em que a magia encontra a realidade, e o resultado é um mundo ficcional que tem fascinado gerações.

Esta edição apresenta todas as sete crônicas integralmente, num único volume magnífico. Os livros são apresentados de acordo com a ordem de preferência de Lewis, cada capítulo com uma ilustração do artista original, Pauline Baynes. Enganosamente simples e direta, As crônicas de Nárnia continuam cativando os leitores com aventuras, personagens e fatos que falam a pessoas de todas as idades, mesmo cinquenta anos após terem sido publicadas pela primeira vez.

O que eu achei de As Crônicas de Nárnia?

Demorei minha vida inteira para começar a ler As Crônicas de Nárnia. Desde criança ouço falar dessas histórias, de sete livros lindamente escritos por um autor que tinha o dom para escrever para crianças e que encantava os adultos. Por alguma razão desconhecida até para mim, fui deixando pra depois e nunca lia. Quando os filmes começaram a ser lançados, eu me lembrei de que já haviam me sugerido ler essas histórias, então passei a incluí-las em minhas listas de leitura.

Como todos sabem – e a maioria faz – essa história de fazer listas de leitura acaba nos complicando a vida, porque tem sempre um livro que passa na frente do outro, sempre tem um lançamento que você precisa ler AGORA. Então, a leitura acabou ficando pra dezembro de 2013. Posso dizer que esse livro fechou com chave de ouro o meu ano literário.

As Crônicas de Nárnia são compostas por sete livros, publicados originalmente em uma ordem diferente da ordem de leitura proposta pelo próprio C. S. Lewis – e que é a ordem adotada pelo volume único, que foi o que eu li. Elas contam a história de algumas crianças que, em determinado momento de suas vidas, acabam indo parar, de formas diferentes, em um país completamente diferente do que elas vivem: Nárnia.

Nárnia é uma terra mágica, onde animais falam, há seres mitológicos como os faunos, as dríades e náiades, e as coisas seguem uma lógica diferente da lógica do nosso mundo. Ali, as crianças vivem aventuras intensas e inesquecíveis, ao lado desses seres fantásticos e desempenham papeis de destaque em vários episódios importantes da história de Nárnia.

Ao longo de todas as crônicas somos apresentados à história completa de Nárnia, desde sua criação, já que no primeiro livro, as crianças vão parar em um mundo paralelo que existia antes de Nárnia ser criada, até a sua gloriosa existência em paralelo com os outros países. Na história de Nárnia, Aslam, o Leão, é o personagem central e mais importante, embora não apareça muito em todas as histórias. Alguns outros seres tentam a todo custo derrotá-lo, mas sua força é tamanha que essa empreitada normalmente não acaba bem para eles. É através de Aslam que as crianças chegam e saem de Nárnia e é com a permissão delas que elas poderão voltar um dia.

Ao mesmo tempo em que é apresentado como um ser de tamanha força e poder, Aslam parece compreender as crianças de um jeito todo especial. Ele sabe quando alguém está sendo sincero e se essa pessoa fez ou não algum esforço para agir conforme o que ele determina. Dentre as crianças e os animais, nenhuma atitude errada ou certa escapa à percepção do Grande Leão. Ele tem uma voz temível e ao mesmo tempo doce, que afasta aqueles que não o compreendem e atrai cada vez mais aqueles que conseguem ouvi-lo falar em sua língua. Ainda que seja uma fera perigosa, é manso e brincalhão com as crianças e se aproxima delas quando se aproximam dele. Ele inspira confiança.

As crianças que mais aparecem na história são os quatro irmãos Pevensie, crianças que conhecem Nárnia ao entrarem em um guarda-roupa que ficava em uma sala vazia na casa do Professor Kirke, onde elas estão passando uma temporada, em razão da guerra. Quando elas chegam lá, cada um a seu tempo, e com uma atitude em relação a tudo o que acabam de conhecer, Nárnia é uma terra assolada por um inverno que não acaba e onde nunca é Natal. Tudo isso é fruto de acontecimentos muito antigos, que resultaram do que acontece em O Sobrinho do Mago, o primeiro livro.

Ao longo das crônicas, as quatro crianças acabam assumindo um papel bastante importante e mesmo nas crônicas em que não são os personagens principais, são mencionados com frequência e são lembrados sempre como os reis e rainhas dos tempos áureos de Nárnia.

As crianças voltam algumas vezes, mas chega um momento em que não podem mais voltar a Nárnia. O que viveram ali deverá ser parte delas no nosso mundo e elas não devem se esquecer de Aslam, mas sim, identificá-lo no nosso mundo, pois aqui ele não aparece como aparece lá. Esse é um dos grandes ensinamentos do livro.

A história foi escrita há muitos anos, mas ainda assim, por ser um livro escrito para crianças, a sua linguagem é fácil e a leitura é rápida. Li em menos de duas semanas o volume completo. As lições passadas pelo autor são demonstradas de uma forma tão simples, que deixa até os adultos com o queixo caído. Coisas simples, como a obediência e a sua consequência, a paciência em esperar a hora e o jeito certo para as coisas e os frutos bons que são colhidos disso, nos mostram que as coisas foram feitas de um modo simples e foram feitas para serem fáceis, mas somos nós que complicamos tudo e estragamos o que poderia ter sido tão bonito.

Nessa leitura eu me emocionei, me assustei e me coloquei no lugar das crianças muitas vezes. Quando elas agiam certo ou errado, eu me via pensando em como seria a minha atitude se eu estivesse lá.

Ler As Crônicas de Nárnia é sair de nossa dimensão e olhar a nossa própria história de fora, de outra perspectiva. Desse ponto, as coisas parecem muito mais simples do que são quando estamos vivendo tudo do lado de dentro. O que me faz pensar se não é isso realmente o que acontece. Está tudo ali de bandeja na nossa frente. Somos alertados dos perigos e do que nos poderá distrair do objetivo final. Somos alertados do que nos espera se obedecermos as regras e se as desobedecermos também. Temos todo o mistério desvendado em nossa frente e, por nossa própria impaciência, incredulidade ou imediatismo, acabamos misturando tudo e bagunçando o que estava tão fácil de fazer.

Por isso, o livro é mais do que recomendado. É obrigatório para crianças e adultos. E não para uma única leitura, mas para várias e várias.

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[Resenha] Quem é você, Alasca? – John Green

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Título: Quem é você, Alasca?
Autor: John Green
Editora: Martins Fontes
Ano: 2010
Páginas: 240
Miles Halter é um adolescente fissurado por célebres últimas palavras que, cansado de sua vidinha pacata e sem graça em casa, vai estudar num colégio interno à procura daquilo que o poeta François Rabelais, quando estava à beira da morte, chamou de o “Grande Talvez”. Muita coisa o aguarda em Culver Creek, inclusive Alasca Young, uma garota inteligente, espirituosa, problemática e extremamente sensual, que o levará para o seu labirinto e o catapultará em direção ao “Grande Talvez”.

O que eu achei de Quem É Você, Alasca?

Este é um tipo de livro que se você olhar só a capa e o título não vai pensar em ler. É aquela leitura que, não fosse por seu autor, ficaria escondida no fim da lista de livros a serem lidos, candidata a nunca se tornar um livro lido na sua meta de leitura do Skoob.

Porém, como eu já havia lido o Teorema Katherine e A Culpa é das Estrelas, e me tornei a típica leitora do John Green, que leria até a lista de supermercado dele, como muitos dizem por aí, ler Quem é você, Alasca? não seguiu esse processo. Quando vi que o livro era dele, já coloquei imediatamente na minha lista de leitura e, claro, ele passou na frente de muitos outros que eu tinha – e tenho – que ler.

O livro conta a história de Miles Halter, o Gordo, que vai estudar em um colégio interno, em busca de uma vida diferente do marasmo que vivia em sua cidade. Até então, Miles era solitário. Sem namorada, sem amigos, era fascinado pelas últimas palavras das pessoas antes de morrer. Ao se deparar com as últimas palavras de François Rabelais, “Saio em busca de um grande talvez”, ele toma a decisão de dar um rumo completamente diferente para a sua vida. Sua intenção é descobrir o grande talvez ainda em vida, o que o leva ao colégio onde parte de sua família havia estudado, ainda que seus pais tenham deixado bem claro para ele que isso não seria necessário.

Chegando ao colégio, ele se aproxima de Chip Martin, o Coronel, com quem dividirá o quarto. O Coronel, que estuda ali mantido por uma bolsa de estudos, tem uma memória incrível e aversão aos Guerreiros de Dia de Semana, os garotos ricos que voltam para as casas dos pais nos finais de semana.É o Coronel que apresenta Miles aos seus amigos, o japonês Takuma e Alasca, a garota misteriosa, de olhos verdes, geniosa e impulsiva. Alasca é linda e por estar envolvida em uma certa atmosfera de mistério, todos acabam se apaixonando por ela. Mas ela tem um namorado, que estuda em outra cidade e toca em uma banda. Alasca e Miles tem em comum o amor pela literatura.

Através dessa característica deles, somos levados juntamente com os personagens de Quem é você, Alasca?, a questionar o mesmo que Simón Bolívar em suas últimas palavras “Como sairei deste labirinto?” A partir desta citação Miles e seus amigos fazem diversas reflexões.O leitor é levado a refletir muito sobre o que nos faz ser quem somos, chegando à conclusão de que são nossas experiências de vida, nossas cabeçadas e acertos e até mesmo os relacionamentos que travamos com as pessoas com quem convivemos. Tudo isso vai montando o grande quebra-cabeça que é nossa existência, tão complexa para ser compreendida por nós mesmos. Esse grande emaranhado de características é que forma e justifica quem nós somos. Cada um tem motivos fortes o suficiente para ser como é, inclusive Alasca em todo seu enigma.

Quem é você, Alasca? me encantou por ser uma obra que traz, dentro de um relacionamento cotidiano de um garoto e seus amigos, as reflexões que todos acabamos fazendo, um dia ou outro. Quem somos nós? Quem é o outro? Achei interessante a forma como cada mistério no livro é questionado, ainda que não seja explicitamente solucionado, pois muito mais importante do que a resposta ou a conclusão a que chegamos, é o caminho que tomamos para buscar cada uma das nossas respostas.

O labirinto de Alasca e o grande talvez de Miles, para mim, são apenas a cenourinha na frente do cavalo. Algo que deve nos motivar a estar sempre caminhando para a frente, mas não necessariamente sendo considerado um fim em si mesmo. Amei Quem é você, Alasca?, como todo livro do John Green e recomendo para todos aqueles que, muito mais do que uma história cheia de elementos altamente emotivos ou surpreendentes, esteja a fim de refletir sobre a vida.