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Reflexões - Cartas de Um Diabo Ao Seu Aprendiz #1

O grupo de leitura do qual participo está começando a leitura de mais um livro. O escolhido da vez é Cartas de Um Diabo Ao Seu Aprendiz, de C. S. Lewis e publicado pela editora Thomas Nelson Brasil.

Irônica, astuta, irreverente. Assim pode ser descrita esta obra-prima de C.S. Lewis, dedicada a seu amigo J.R.R. Tolkien. Um clássico da literatura cristã, este retrato satírico da vida humana, feito pelo ponto de vista do diabo, tem divertido milhões de leitores desde sua primeira publicação, na década de 1940; agora com novo projeto gráfico, tradução atual e capa dura.

Cartas de um Diabo a seu Aprendiz é a correspondência ao mesmo tempo cômica, séria e original entre um diabo e seu sobrinho aprendiz. Revelando uma personalidade mais espirituosa, Lewis apresenta nesta obra a mais envolvente narrativa já escrita sobre tentações — e a superação delas.

Nosso grupo está se propondo a ler essa obra de maneira mais lenta e bastante criteriosa, para estudar os temas tratados por Lewis em cada uma delas. O material é simples e tem um certo humor. Apesar disso, é de grande relevância para refletirmos sobre nosso comportamento em relação a Deus, sua Palavra e as nossas relações interpessoais na família, no trabalho e na igreja.

Nossa primeira sessão abrangeu a primeira carta. Já pudemos ter um gostinho de como serão as próximas reuniões, pois ficamos por mais de uma hora conversando, sem esgotar os assuntos que poderíamos tratar.

Nesse primeiro texto Lewis nos apresenta aos personagens envolvidos nas correspondências que leremos ao longo das trinta e uma cartas do livro. Maldanado é um demônio sênior que escreve as cartas para orientar o trabalho de seu sobrinho Vermelindo, um demônio júnior, em afastar os seus pacientes do Inimigo.

Ao longo do livro vamos acompanhar o trabalho de Vermelindo quanto a um paciente específico. Cada carta trata de vários assuntos. Meu propósito para escrever uma série e não só a resenha do livro após a leitura foi registrar a reflexão sobre os temas que mais me chamaram a atenção em cada sessão dos nossos estudos.

O tema que saltou aos olhos no primeiro texto foi a estratégia usada por Maldanado e que ele sugere ao seu sobrinho. Essa ação consiste em desviar a atenção do paciente dos assuntos que realmente importam e fazê-lo se concentrar naquilo que é imediato, físico e banal.

Segundo Maldanado, fazer os seres humanos pensarem é um risco enorme para o trabalho demoníaco. Ele declara que esse raciocínio promove o pensamento sobre temas sérios, que estão alojados em um âmbito do nosso ser ao qual os demônios não acessam, mas Deus sim.

O que nos ensinam ao longo da vida cristã, pelo menos para quem cresceu em contexto pentecostal e neopentecostal nos anos 90/2000, é o contrário disso. Alguns dizem que se somos cristãos, não precisamos nos envolver com a cultura ou com os temas da atualidade, mas apenas com os assuntos que importam à igreja. Por outro lado, há aqueles que dizem que estudar teologia demais pode nos afastar de Deus.

Para as mulheres a orientação é ainda mais perniciosa. Dizem alguns que se o nosso papel é servir no lar, não há necessidade de estudarmos para desenvolver atividades profissionais ou ter conhecimentos gerais. Outros dizem que se não podemos pregar na igreja, então o estudo teológico é dispensável para nós. Por isso é que vemos, de forma mais ostensiva, no caso de mulheres, um desestímulo quanto ao estudo, de forma bem disfarçada. Nossas programações eclesiásticas se resumem a planejar eventos, refeições e presentes para datas comemorativas. Nossas sociedades internas promovem encontros com comida e comunhão, trazem uma breve reflexão sobre temas do universo feminino e assim seguimos apartadas dos temas de interesse teológico comum.

Ao contrário do que somos normalmente ensinadas, o estudo e o raciocínio sobre o que cremos é o meio mais sólido para nos aproximarmos de Deus. Isso nos levará a uma fé robusta e que não vacila diante das dificuldades. Graças a Deus, estamos buscando mudar isso ao levantar esses temas para discussão entre mulheres, abordando a teologia de forma geral e não os temas especificamente “femininos”.

Maldanado traz alguns exemplos do que usa para distrair os seus pacientes destes assuntos sérios. Ele diz que para afastar as pessoas daquilo que realmente importa é só fazê-los se concentrar em suas necessidades físicas mais básicas e imediatas. É verdade que acabamos cedendo a elas em alguns momentos, como o sono, a preguiça e o que ele chama de “pressões do cotidiano”. Agora que estamos estudando o assunto a fundo, temos a oportunidade de trabalhar de maneira ativa para vencer essas investidas, priorizando as coisas certas. Nas próximas semanas, continuaremos acompanhando as cartas e os principais assuntos abordados. Você pode colaborar com esses textos, deixando as suas impressões nos comentários.

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[Resenha] O Racionalista Romântico – John Piper e David Mathis

Título: O Racionalista Romântico – Deus, Vida e Imaginação na Obra de C. S. Lewis

Autor: John Piper e David Mathis (organizadores)

Editora: Monergismo

Ano: 2017

Páginas: 224

Sinopse

C. S. Lewis foi um dos cristãos mais influentes do século XX. Seu compromisso com a vida da mente e a vida do coração é evidente em clássicos como «As Crônicas de Nárnia» e «Cristianismo Puro e Simples» – livros que ilustram a conexão inquebrantável entre pensamento rigoroso e emoção profunda. 

Com contribuições de Randy Alcorn, John Piper, Philip Ryken, Kevin Vanhoozer, David Mathis e Douglas Wilson, este volume explora a vida, o trabalho e o legado de C. S. Lewis, enquanto destila-se a prazerosa verdade que estava no cerne do pensamento de Lewis: apenas Deus é a resposta para nossos anseios mais profundos e a fonte de nossa alegria sem fim.

O que eu achei de O Racionalista Romântico?

Comprei este livro em uma super promoção que a Editora Monergismo fez, um tempo atrás, mas como acontece com vários livros meus, este também acabou esperando bastante até que eu o pegasse pra ler. Resolvi lê-lo este ano, tanto porque estou planejando ler mais obras de C. S. Lewis quanto por ainda haver muito sobre ele que eu gostaria de aprender.

A leitura foi relativamente rápida. Tenho mantido uma rotina de leitura diária, o que me faz ler mais rápido, é verdade. Mas esse livro, além de curtinho, é uma compilação de diversos artigos, por vários autores diferentes. Isso torna a leitura ágil e muito proveitosa, pois podemos ler um artigo por dia e, assim, finalizar o pensamento daquele autor, antes de passar para o próximo.

A leitura de O Racionalista Romântico me fez ter mais vontade ainda de ler mais livros escritos por C. S. Lewis, pois os autores, conforme a premissa estabelecida no título, discorrem sobre o que ele pensava a respeito de cada tema abordado, sempre lançando mão de trechos de seus livros ou artigos. As menções a Nárnia me deixaram com vontade de reler as crônicas, que sempre me emocionam. Recomendo muito a leitura. Em seguida, deixo um pouco do que aprendi com ela.

Em O Racionalista Romântico, os autores nem sempre concordam com o posicionamento de Lewis, mas ainda assim, sua importância para o cristianismo e a literatura é celebrada a cada página. Aliás, a forma que Lewis utilizava para comunicar as verdades bíblicas é o ponto em comum de todos os artigos.

Neste livro, aprendemos que Lewis usou a imaginação para criar mundos, para desenvolver comparações que tornassem mais simples a apreensão das verdades bíblicas que queria transmitir. Ainda que tivesse posições pouco ortodoxas a respeito das Escrituras, sempre ressaltou sua importância em suas obras. Ele trabalhava habilmente com as palavras, escolhendo-as com cuidado para que cada aspecto de seu texto pudesse expressar aquilo que ele cria. A partir da comparação feita pela fantasia criada por Lewis, podemos aprender sobre a realidade de quem Deus é. Para ele, a imaginação é uma excelente maneira de aprender sobre a realidade.

Também aprendemos que Lewis também demonstrava, por meio do que escrevia, que a vida aqui nesta terra era apenas uma sombra, um antegosto do que ainda está por vir, quando vivermos finalmente com Deus. E ele deixava claro crer em um aspecto material desta vida futura, tanto do nosso corpo quanto da terra. Para ele, a nova criação implica em uma vida física, plena, livre do pecado, mas com tudo aquilo que Deus havia planejado desde o início para a humanidade. Ao mesmo tempo que devemos ansiar por essa vida futura, também é possível, por meio de um relacionamento com Deus, desenvolvermos um relacionamento correto com as coisas desta terra, desfrutando do que Deus nos oferece já agora, enquanto esperamos pela consumação de tudo.

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[Resenha] As Crônicas de Nárnia – C.S. Lewis

as crônicas de nárnia

Título: As Crônicas de Nárnia

Autor: C. S. Lewis

Editora: Martins Fontes

Ano: 2009

Páginas: 752

Viagens ao fim do mundo, criaturas fantásticas e batalhas épicas entre o bem e o mal – o que mais um leitor poderia querer de um livro? O livro que tem tudo isso é O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, escrito em 1949 por Clive Staples Lewis. Mas Lewis não parou por aí, seis outros livros vieram depois e, juntos, ficaram conhecidos como As crônicas de Nárnia.

Nos últimos cinquenta anos, As crônicas de Nárnia transcenderam o gênero da fantasia para se tornar parte do cânone da literatura clássica. Cada um dos sete livros é uma obra-prima, atraindo o leitor para um mundo em que a magia encontra a realidade, e o resultado é um mundo ficcional que tem fascinado gerações.

Esta edição apresenta todas as sete crônicas integralmente, num único volume magnífico. Os livros são apresentados de acordo com a ordem de preferência de Lewis, cada capítulo com uma ilustração do artista original, Pauline Baynes. Enganosamente simples e direta, As crônicas de Nárnia continuam cativando os leitores com aventuras, personagens e fatos que falam a pessoas de todas as idades, mesmo cinquenta anos após terem sido publicadas pela primeira vez.

O que eu achei de As Crônicas de Nárnia?

Demorei minha vida inteira para começar a ler As Crônicas de Nárnia. Desde criança ouço falar dessas histórias, de sete livros lindamente escritos por um autor que tinha o dom para escrever para crianças e que encantava os adultos. Por alguma razão desconhecida até para mim, fui deixando pra depois e nunca lia. Quando os filmes começaram a ser lançados, eu me lembrei de que já haviam me sugerido ler essas histórias, então passei a incluí-las em minhas listas de leitura.

Como todos sabem – e a maioria faz – essa história de fazer listas de leitura acaba nos complicando a vida, porque tem sempre um livro que passa na frente do outro, sempre tem um lançamento que você precisa ler AGORA. Então, a leitura acabou ficando pra dezembro de 2013. Posso dizer que esse livro fechou com chave de ouro o meu ano literário.

As Crônicas de Nárnia são compostas por sete livros, publicados originalmente em uma ordem diferente da ordem de leitura proposta pelo próprio C. S. Lewis – e que é a ordem adotada pelo volume único, que foi o que eu li. Elas contam a história de algumas crianças que, em determinado momento de suas vidas, acabam indo parar, de formas diferentes, em um país completamente diferente do que elas vivem: Nárnia.

Nárnia é uma terra mágica, onde animais falam, há seres mitológicos como os faunos, as dríades e náiades, e as coisas seguem uma lógica diferente da lógica do nosso mundo. Ali, as crianças vivem aventuras intensas e inesquecíveis, ao lado desses seres fantásticos e desempenham papeis de destaque em vários episódios importantes da história de Nárnia.

Ao longo de todas as crônicas somos apresentados à história completa de Nárnia, desde sua criação, já que no primeiro livro, as crianças vão parar em um mundo paralelo que existia antes de Nárnia ser criada, até a sua gloriosa existência em paralelo com os outros países. Na história de Nárnia, Aslam, o Leão, é o personagem central e mais importante, embora não apareça muito em todas as histórias. Alguns outros seres tentam a todo custo derrotá-lo, mas sua força é tamanha que essa empreitada normalmente não acaba bem para eles. É através de Aslam que as crianças chegam e saem de Nárnia e é com a permissão delas que elas poderão voltar um dia.

Ao mesmo tempo em que é apresentado como um ser de tamanha força e poder, Aslam parece compreender as crianças de um jeito todo especial. Ele sabe quando alguém está sendo sincero e se essa pessoa fez ou não algum esforço para agir conforme o que ele determina. Dentre as crianças e os animais, nenhuma atitude errada ou certa escapa à percepção do Grande Leão. Ele tem uma voz temível e ao mesmo tempo doce, que afasta aqueles que não o compreendem e atrai cada vez mais aqueles que conseguem ouvi-lo falar em sua língua. Ainda que seja uma fera perigosa, é manso e brincalhão com as crianças e se aproxima delas quando se aproximam dele. Ele inspira confiança.

As crianças que mais aparecem na história são os quatro irmãos Pevensie, crianças que conhecem Nárnia ao entrarem em um guarda-roupa que ficava em uma sala vazia na casa do Professor Kirke, onde elas estão passando uma temporada, em razão da guerra. Quando elas chegam lá, cada um a seu tempo, e com uma atitude em relação a tudo o que acabam de conhecer, Nárnia é uma terra assolada por um inverno que não acaba e onde nunca é Natal. Tudo isso é fruto de acontecimentos muito antigos, que resultaram do que acontece em O Sobrinho do Mago, o primeiro livro.

Ao longo das crônicas, as quatro crianças acabam assumindo um papel bastante importante e mesmo nas crônicas em que não são os personagens principais, são mencionados com frequência e são lembrados sempre como os reis e rainhas dos tempos áureos de Nárnia.

As crianças voltam algumas vezes, mas chega um momento em que não podem mais voltar a Nárnia. O que viveram ali deverá ser parte delas no nosso mundo e elas não devem se esquecer de Aslam, mas sim, identificá-lo no nosso mundo, pois aqui ele não aparece como aparece lá. Esse é um dos grandes ensinamentos do livro.

A história foi escrita há muitos anos, mas ainda assim, por ser um livro escrito para crianças, a sua linguagem é fácil e a leitura é rápida. Li em menos de duas semanas o volume completo. As lições passadas pelo autor são demonstradas de uma forma tão simples, que deixa até os adultos com o queixo caído. Coisas simples, como a obediência e a sua consequência, a paciência em esperar a hora e o jeito certo para as coisas e os frutos bons que são colhidos disso, nos mostram que as coisas foram feitas de um modo simples e foram feitas para serem fáceis, mas somos nós que complicamos tudo e estragamos o que poderia ter sido tão bonito.

Nessa leitura eu me emocionei, me assustei e me coloquei no lugar das crianças muitas vezes. Quando elas agiam certo ou errado, eu me via pensando em como seria a minha atitude se eu estivesse lá.

Ler As Crônicas de Nárnia é sair de nossa dimensão e olhar a nossa própria história de fora, de outra perspectiva. Desse ponto, as coisas parecem muito mais simples do que são quando estamos vivendo tudo do lado de dentro. O que me faz pensar se não é isso realmente o que acontece. Está tudo ali de bandeja na nossa frente. Somos alertados dos perigos e do que nos poderá distrair do objetivo final. Somos alertados do que nos espera se obedecermos as regras e se as desobedecermos também. Temos todo o mistério desvendado em nossa frente e, por nossa própria impaciência, incredulidade ou imediatismo, acabamos misturando tudo e bagunçando o que estava tão fácil de fazer.

Por isso, o livro é mais do que recomendado. É obrigatório para crianças e adultos. E não para uma única leitura, mas para várias e várias.