O despertador grita, impiedoso, no cômodo ao lado. Nós nos levantamos para o dia, já com uma lista enorme de demandas. São os filhos, a casa, o trabalho, as ideias de novos projetos, os compromissos com hora marcada. Tenho a impressão de que alguns dias começam já cronometrados e que qualquer desvio, por mínimo que seja, derrubará todo o castelo de cartas que é a nossa agenda.
Parar para comer? Perda de tempo, pego o prato e vou para a frente do computador. Nada de mesa posta, nada de saborear. Vamos ser práticos! Engole a comida e vai produzir.
Ouvir pela centésima vez a criança contar a história? Esperar seus pensamentos desacelerarem e saírem de forma organizada pela boca, desabafando o que o amigo fez na escola ontem? Não dá tempo! Fala logo, menino, que eu não tenho o dia inteiro.
Ouço as notícias enquanto amamento, nino a criança no carrinho enquanto escrevo um texto. Baixo arquivos de trabalho em uma tela e alimento a planilha em outra. Organizo a cozinha enquanto a água do banho esquenta, repasso a lista de compras enquanto hidrato o cabelo e estudo coreano enquanto faço as unhas.
Até agora, cinco da tarde, não deu tempo de ler a Bíblia. Orar uma frase desesperada no meio do choro do bebê serve? É o que deu tempo hoje. Foi no meio dessa rotina louca que fui lembrada, graciosamente, pelo sermão de domingo, da repreensão de Jesus a Marta.
Na história bem conhecida, Marta, atarefada enquanto servia Jesus e seus discípulos, hospedados em sua casa, indigna-se contra sua irmã Maria, que havia parado o que estava fazendo para se sentar e ouvir Jesus ensinar. Ela questiona Jesus sobre aquilo, esperando que ele repreendesse a irmã e a mandasse ir ajudar, mas quem acaba sendo repreendida é ela.
Em meio a nossas muitas demandas, muitas vezes vamos ao Senhor buscando validação. Queremos mostrá-lo “tudo isso que estamos fazendo”, justificando, assim, “tudo o que estamos deixando de fazer”, em busca de um afago. Esperamos que ele concorde conosco e entenda que estamos ocupadas demais para nem sequer falar com Ele.
Mas Jesus não é assim. Da mesma forma que repreendeu Marta, mostrando a ela que a escolha de Maria tinha sido pela “boa parte”, ele nos ensina hoje, por sua admoestação amorosa, que, por mais necessárias que sejam nossas intermináveis tarefas, a atividade mais importante do nosso dia é nos assentarmos aos pés do Senhor para aprender dele.
É claro que precisamos estender a roupa lavada no varal, alimentar nossa família, manter os ambientes limpos e organizados. Todas essas atividades são essenciais para a manutenção do nosso lar. Entretanto, sem um coração submisso à vontade do Senhor, estaremos apenas cumprindo uma lista de tarefas e não o nosso propósito nesta vida.
Dedicar um tempo à leitura e meditação na Palavra de Deus, para aprender sobre Ele, e à oração, para levar até ele todas as nossas súplicas, é vital para a construção de um lar e de uma família alicerçada no Senhor. Com frequência nos preocupamos com as nossas muitas demandas, nosso coração se aflige com ansiedade e incertezas.
Mesmo sabendo que a maneira dada pelo próprio Deus para aliviar nossa carga mental é orar e entregar a Ele nossas preocupações, isso não acontece automaticamente. É uma disciplina diária, um exercício de confiar e descansar. Exige sacrificar os desejos da carne por mais cinco minutos na cama, por mais cinco minutos no Instagram ou qualquer outra distração, e valorizar o tempo aos pés de Jesus, mesmo que seja rodeada de brinquedos pelo chão e interrompida aqui e ali por chorinhos de bebê.
Nestes dias, tenho buscado a presença do Senhor logo de manhã, enquanto minha filha ainda dorme. Nem sempre a matemática funciona como planejei, mas minha intenção é fazer meu devocional antes de qualquer outra tarefa, por mais que isso represente um item a menos riscado da minha lista.
Quero saber: você também sente essa dificuldade? Como tem sido seu tempo com Deus? Compartilhe nos comentários, vou amar aprender com você!
Nos próximos dias, se Deus permitir, disponibilizarei um recurso que pode te ajudar neste processo!