O texto de hoje é uma reflexão na segunda carta do livro Cartas de Um Diabo Ao Seu Aprendiz, de C. S. Lewis. No post anterior eu explico um pouco sobre como estamos fazendo essa leitura, a sinopse do livro e trago as reflexões sobre a primeira carta.
Nesta carta, o tema central é a relação do paciente de Vermelindo com a igreja que ele começou a frequentar. Maldanado, o demônio sênior que orienta seu sobrinho nas atividades de um tentador, explica as principais estratégias usadas pelo inferno para desestimular os cristãos em relação à sua igreja local.
Seu foco está em manter os olhos do paciente, assim como vimos no post anterior, em temas superficiais. Quanto mais os olhos do ser humano estiver sobre as coisas terrenas, melhor para Maldanado e para Vermelindo. E, ao mesmo tempo, ele quer que Vermelindo distraia seu paciente a ponto de ele nem mesmo cogitar que a igreja invisível segue triunfante, expandindo-se no tempo e no espaço.
Maldanado quer que Vermelindo explore o fato de que o novo convertido tem um ideal de cristão em sua mente, por não estar em uma igreja tempo suficiente. Ele sugere que seu sobrinho trabalhe na decepção desse paciente sobre essa percepção nas primeiras semanas de conversão. A decepção é um choque de realidade, pois nos despoja do conceito ideal sobre as pessoas e nos colocar diante de pessoas reais. Por outro lado, a estratégia diabólica é nos fazer olhar a hipocrisia alheia enquanto evitamos olhar a sua própria.
Esta carta traz uma reflexão importante sobre o convívio das pessoas na igreja local e toca profundamente em questões pelas quais todos nós passamos, se ficamos tempo suficiente ali.
Há casos de abuso emocional e espiritual causado por relacionamentos nas igrejas, ainda mais envolvendo estruturas hierárquicas na instituição. Muitas vezes caímos nesse tipo de relação abusiva, pois acreditamos que por estarem numa igreja as pessoas estão curadas e são maduras. Mas nós, muitas vezes, não estamos. Como podemos esperar isso dos outros? É claro que o abuso é um comportamento errado e deve ser punido. Nosso papel é ter cautela ao fazer amizades para não nos machucarmos demais.
Há infinitas situações em que pessoas são excluídas de grupos, pelos motivos mais diversos. Costumamos ver a igreja como a “família sem qualquer falsidade e vivendo a verdade unida em amor”, mas quando convivemos as coisas são bem diferentes. As pessoas às vezes não agem como deveriam nem se importam conosco. Nós também somos assim, se pensarmos bem sobre nossas ações.
Também existe a famosa fofoca, que faz suas vítimas no mundo inteiro e não tem o menor preconceito quanto ao local onde está se espalhando. As decepções que podemos ter com seres humanos dentro da igreja formam uma lista imensa que eu poderia passar horas escrevendo aqui. A ideia do texto não é essa.
A carta tem uma função que é nos mostrar que devemos estar atentos para o que criticamos nas outras pessoas. Devemos prestar muita atenção se não estamos exigindo delas uma perfeição que é impossível que tenha, ou as medindo com padrões que nem nós mesmos ainda alcançamos. É claro que isso não significa que estamos com o passe livre para julgar todos aqueles que cometem um pecado do qual conseguimos nos livrar ou que não é nosso tipo de tentação, certo?
É fato que normalmente ignoramos nossa própria hipocrisia quanto aos outros na igreja e esperamos que eles sejam e façam aquilo que nos agrada, mas sem nenhuma ação nossa em retorno. O problema que enxergamos nos outros está em nós também. Por que não começar a lidar com o nosso pecado antes de questionar o alheio?