Publicado em Reflexões

Qual sua música preferida?

Já vou começar falando que eu mesma não tenho uma só. E nem sempre tenho a mesma música como favorita. Ano passado aprendi que pra mim, a música tem muito a ver com o que eu to sentindo. Muito mais do que simplesmente algum conceito externo ou algo que uma pessoa diga ser música de qualidade.

Eu gosto de música velha. Eu ouço músicas atuais, sim, mas também me pego a maior parte do tempo curtindo músicas que já estão longe das listas de mais tocadas da semana há um tempão.

Durante muito tempo, meu repertório se restringia a música cristã contemporânea. Por várias razões, mas especialmente aquela modinha de uns anos atrás de que cristão só podia ouvir música cristã. Acabou que eu fui atrás, dentro da CCM, de bandas e artistas que tocavam estilos que eu gostava e que tinham letras que não iam contra a minha fé.

Demorou um tempo até eu aprender que outras bandas não necessariamente contrariavam a minha fé. Mas, o “estrago” já estava feito e eu, mesmo que ouvisse qualquer tipo de música no rádio, quando se tratava de investir dinheiro para comprar (ou ouvir no Spotify), eu ficava mais concentrada nas CCM. Foram uns bons anos assim, até que eu comecei a inserir uma ou outra música “secular” no meio.

Hoje em dia, eu posso dizer que sou bem mais eclética do que antes. Mas, claro, tudo dentro dos estilos que eu gosto de ouvir. Não vou ouvir o que eu não gosto só porque me disseram pra gostar. Nem vou mais me achar inferior por estar sempre ouvindo algo que ninguém ouve ou que a maioria das pessoas não conhece.

Continuo tendo as minhas bandas favoritas. E elas continuam concentradas no âmbito da CCM. A maioria das músicas que eu mais ouço são antigas, um ou outra nova.

Tem as minhas músicas “de sempre”, pra onde eu corro quando preciso só voltar pra um lugar confortável dentro de mim. As que eu sei que vão me colocar pra pensar. As que estimulam minha criatividade e as que me fazem ter vontade de levantar e conquistar o dia.

Basicamente como todo mundo.

Mas acredito muito que isso não tem só a ver com a esplêndida qualidade musical do artista em questão, ou de ser um clássico “inquestionável”. Tem a ver com sentimento, com identificação, memória, lembrança, ou simplesmente porque eu gosto. Me deixa feliz, me faz rir e isso basta.

Ao longo da minha vida toda eu parei muito pra refletir em cima de músicas, mesmo que já as conhecesse há um milhão de anos e soubesse a letra de cor. E aprendi que sempre tem aquele pãozinho com manteiga e café quentinho na música. Eu valorizo as músicas que fizeram sentido pra mim em algum momento. E voltar a ouvi-las em novas ocasiões não só me ajuda em outros perrengues, mas me mostra o quanto eu aprendi desde que tudo o que ela carrega consigo aconteceu.

Não estou aqui pra listar as melhores músicas do mundo, nem “cagar regra” sobre como você deve ouvir sua música. Ou comer seu pãozinho com manteiga e café. Porque pode ser que você nem goste de café.

Estou escrevendo esse texto ao som de músicas que seriam normalmente consideradas velhas, chatas, mais do mesmo, “você só ouve essa banda” e etc. Mas não vou justificar meu gosto musical aqui, explicando porque eu gosto, ou porque vale a pena escutar as mesmas músicas que eu.

Aliás, acho um porre querer enfiar goela abaixo de quem quer que seja o seu gosto musical pessoal (ou qualquer gosto, na verdade), como se “aquilo sim fosse música”. Ou “aqui tem música boa” e “lá tem música ruim”.

Não.

Aqui, na minha playlist, tem as músicas que me tocam e que me movem em alguma direção. A faixa que me inspira a sentar diante do computador e escrever quase um capítulo inteiro com o coração derretendo por conta de um personagem talvez te faça querer dançar sozinho pela casa enquanto vai arrumando umas gavetas. Vai saber.

Recentemente conheci músicas boas por indicações que recebi e sou muito feliz ouvindo-as com uma certa frequência. Só que também passei por algumas situações envolvendo meu gosto musical e a minha forma de lidar com música que me fizeram repensar tanto o que estava no meu player quanto as minhas referências nesse assunto.

Quando me perguntaram em que planeta eu vivia que ainda não conhecia a banda X, eu fiquei me sentindo mal. Cheguei a me achar incrivelmente idiota por não sair da bolha musical que criei pra mim nos últimos tempos e fui atrás de conhecer mais.

E não é que algo incrível aconteceu?

Conheci mais, não só sobre a banda em questão, mas sobre outras músicas que o Spotify me recomendou, e ampliei bastante meu repertório do que ouvir no trabalho. Fui descobrindo novas letras e novas inspirações pra escrever. Aprendi a montar playlists conforme o que eu queria sentir em alguma situação. Segui nessa linha.

Quando ouvi críticas ao meu gosto musical, me justifiquei dizendo que já tinha melhorado, que estava ampliando meus horizontes. Agradeci. Continuei prestando atenção às minhas referências e tentando consertar meus “erros musicais” (oi?), até que um dia…

Eu estava quase pós-graduada em “música boa”, tendo uma overdose de “artistas fodões” e estava no trabalho. Era um dia bastante difícil, de uma semana difícil e eu já estava bem cansada, mal-humorada e sem qualquer capacidade de concentração.

Sim, a música estava ligada no fone, como todos os dias. Mas ao contrário do que sempre acontecia, estava mais me atrapalhando do que me ajudando a focar e entrar no modo produtividade máxima.

Sem fone também não tinha como fazer nada. O lugar estava um burburinho só, e não dava nem pra escutar o colega do lado.

Depois de uma ida ao banheiro pra jogar água na cara e uma caneca a mais de café devidamente tirada da máquina, pedi desculpas aos deuses da música pela blasfêmia, procurei minha banda favorita de sempre, dei play e comecei a trabalhar.

Não preciso nem dizer que a partir dali o dia rendeu o dobro de antes. E nem que eu senti o meu coração quentinho, confortável como meu lugar favorito da casa e o fato de saber todas as letras, sequências, falas ao vivo, vinhetas etc. sem precisar parar pra prestar atenção foi lindo.

Eu aprendi que não tem porque querer moldar meu gosto musical aos dos outros, porque quando a vida acontece, você é que sabe qual a trilha sonora mais combina com o momento.

As pessoas que criticam meu gosto musical não estavam aqui pra conversar comigo e me ajudar a colocar tudo no lugar quando a vida virou uma zona. Quem acha que eu só ouço a mesma coisa sempre, não está realmente prestando atenção quando eu listo a quantidade de artistas que ouço ao longo de apenas um dia. Quem acha que só quem ouve tal gênero é que ouve música boa, está mais fechado a crescer musicalmente do que eu estava quando só ouvia música cristã.

Eu amadureci muito nesses últimos tempos, e aprender a me respeitar e a acolher meus gostos foi um passo importantíssimo nesse processo. Inclusive, continuo ouvindo a minha banda favorita todo dia. E cantando junto.

Com a minha banda favorita eu não preciso de justificativas. Não estou ouvindo porque é chique, porque é culto, porque escritores ouvem, porque “quem sabe tudo de música tem que gostar”. Mas porque é parte da minha identidade e eu não vou me desculpar por ser eu mesma. 🙂

Eu não sei tudo de música.

Mas eu sinto muita coisa ouvindo minhas músicas favoritas.

E eu sinto muito se esse gosto é pessoal demais para não ser compartilhado por você.

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[Resenha] A morte de Ivan Ilitch – Lev Tolstói

a morte de ivan ilitch

Esta obra mostra a história de um burocrata medíocre, Ivan Ilitch, um juiz respeitado que depois de conseguir uma oferta para ser juiz em uma outra cidade, compra um apartamento lá, para ele, sua mulher, sua filha e seu filho morarem. Ao ir para o apartamento, antes de todos, para decorá-lo, ele cai e se machuca na região do rim, dando início à uma doença.

Título: A Morte de Ivan Ilitch
Autor: Lev Tolstói
Editora: BIIS
Ano: 2009
Páginas: 96

O livro conta a história de Ivan Ilitch, e de como uma doença inesperada o leva a questionar se vale a pena ou não continuar vivendo. Ele era um juiz de direito, com uma vida invejável e bem-sucedido, até que chega o momento de encarar o inevitável.

O que eu achei de A morte de Ivan Ilitch

O livro é curtinho e a leitura é rápida, mas seu impacto é bastante forte. Os questionamentos sobre a vida e a forma como a levamos é uma constante ao longo das páginas. A cada capítulo, pensamos sobre o sentido da vida, se deve mesmo haver algum significado para o que fazemos enquanto estamos nesta terra.

Sem poder fazer muito diante de sua triste realidade, Ivan Ilitch questiona a si mesmo, e passa sua vida em revista, tentando encontrar nas suas lembranças, os momentos que a tenham feito valer a pena.
O livro é incômodo e ao mesmo tempo uma boa leitura, pelas reflexões que provoca. O personagem principal, Ivan Ilitch, me irritou muito ao longo do livro e, com isso, não consegui muito me afeiçoar a ele, senão aos dilemas que enfrentava.

Talvez por serem questões que nos afetam a todos como humanos. A morte é a certeza que temos e algo pelo qual todos passaremos um dia. É interessante poder refletir sobre ela – e por que não, sobre a nossa vida, na pele de alguém que não soube muito bem como passar nem por uma, nem pela outra.

É um livro que dá pra ler em um dia, apenas. Recomendo.

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